quinta-feira, 13 de maio de 2021

Revés

sou todo entrega 
vivo sem regra 
sou meu ator... 

vou mesmo ao fundo 
do meu poço 
e quando posso 
volto a boiar 
na nata do leite 
da tona 

nenhum revés 
me desnorteia 
desregrado 
nada me freia 
só me limita a dor 

faço do ato meu prato 
sala de estar 
sem foto esquisita 
sem mensagem escrita 
e murcha aquela flor 

cada corpo em que 
me enrosquei 
cada dragão que apaguei 
paguei contas 
do que não usei 
e sei que posso 
regurgitar 
cada sapo que não digeri 

sei que posso tentar sozinho 
cada gozo que não fingi 

sou meu ator 
de um texto sem regra 
sou todo entrega. 

O Velho PAR 2021

 

domingo, 19 de julho de 2020

"pequeo dicionário do futuro"

to  aqui no desalinho,
to aqui no quero mais,
to aqui no rolo sem destino,
to aqui no resto do que dá...

to na fresta da caserna,
to no modo da baderna,
to na quinta dimensão,
na casa da intuição...

to no meio do solstício,
no último trago do vício,
no início da desistência,
to no corpo flácido e frígido,
to  no topo do olho rígido,
na queda da incoerência...

to aqui,
ameno,
amargo,
quase nulo,,,
to aqui,
pequeno
dicionário
do futuro...

sou a vida
contra o muro...

Dante Pincelli

2015

6

domingo, 19 de maio de 2019

Copia e cola (em mim)



Há uma epidemia grave
de paladares exóticos
eróticos
na papilas exibidas 
daquela língua
que nunca pude beijar.

Porque não pude alcançar
teus lábios tão bons.
Porque tudo era um maio
sem rosas e sem neve...
Tudo era silêncio e a
nave não partia.

Ao mesmo tempo o tempo,
(ah! esse ladrão de pulsação.)
distancia outras bocas
lábios e dentes
bochechas e palatos
saliva e palavrão

e no meio, um rio (es) caudaloso
um mar inequívoco
um oceano
oceano de ócio por anos!

Por dentro aqui
uma enchente de lágrimas doces
doces como as mil saudades
que guardo pra ti...

Saudade dessa boca
de língua lata-latina
dessas mãos de escrita
condensada e convincente
dessa cabeça de poucos pelos
e muitos Paulos.

Devaneio fértil...

Desejo de um corpo
que se apresente nu e
inteiro à espera que eu
o toque de surpresa.
Que o trate leão e presa.
Um corpo de sensações
e saudade desesperadas.
Um corpo que não é meu 
por distância e não quero
por distração. Que queria
meu e não possuo e queria
possuir mas não tenho.
Queria cobrir de saliva
de poemas e palavras
de silêncio.
Cobrir de mim agora e Dantes.

PAR & Dante

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

"Tributo ao Vazio que Você me Causa"



...

Setembro ruiu entre
torturas vis e possibilidades 
amenas 
de nunca ter estado
sob o gargalo quebrado...

Ai!
E esse gosto de vulva
que não me sai da memória
do bigode
pelos indefesos...

Esses lábios memoráveis 
e esses sucos insaciáveis... 
Meu desejo e o teu trovão. 
Nuvem de palavras para te perder. 
Não sei se é verdade 
e não sei se é porque quero 
teu gosto nos dentes.

Deixa-me beijar-te assim 
com o sono das madrugadas perdidas 
e um céu negro de Outono.

Ou tomo uma atitude
e te agarro na primeira
curva dessa rua sem saída
ou morro seco
sem eco de existência...

Com a grandiloquência
da minha insignificância...



Dante Pincelli & PAR 


                                         



quarta-feira, 30 de maio de 2018

"Justaposição"




Nus
somos seres enormes
e nus 
a arrastar nossos ventres
na merda 
dos que vão à frente...

Enormes
somos seres nus
a cagar nos ventres 
dos que vem atrás...

Cagados
o que somos?

Talvez, quem sabe, talvez... 

Sejamos, a penas, 
aquilo que cagamos. 
A merda 
em que nos movemos.
Quem sabe apenas 
chafurdamos na merda 
que inventamos.

E assim sendo
nos resta a posição
desvalida
na fila da dor...


PAR-PT & Dante Pincelli

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

MAL ou Mar de Amar ao Longe




Num inconteste dia vazio
indubitável feriado nacional
sinto saudades lúdicas
de alguém que ainda não conheço
e vontade ancestral
de voltar àquele lugar
onde nunca estive

estive onde nunca
houve lugar como aquele
para voltar
vontades desejos vontades
ancestrais inutilidades
o que o físico não conhece
o amor irmana
o amor amontoa
o amor sobe a montanha
e cruza o oceano
para ver, quem se ama, 
ao longe...

o mar apalpa os pelos
e, os desejos, ele esconde...

PAR & Dante Pincelli

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Nem uma nem outra

Não dou a outra face
Não dou
Nunca tive quem me lavasse
Nem o rabo nem os pés...
Não dou nada
Do que me basta
Nada que me arrasta
Nada de viés

Não!

Não lambo botas
Nem babo ovos
Nem ofereço minha mão 
A palmatória
Nunca darei
Aquilo que te guardei
O resto, histórias...
O resto, suposições...

Detalhes, meus amores, detalhes!


PAR e Dante Pincelli
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quinta-feira, 15 de junho de 2017

Calmaria Maníaco-Depressiva




Calmaria Maníaco-Depressiva


Aqui tens o irremediável 
café sem açúcar quotidiano!

Aqui tens o amargo
Deplorável
Dos meus enganos
arrependimento
arrependimento
que não mata
que não esfola
não cicatriza

Sofrimento
Absurdo 
me alisa
círculo de vício
palhaço sem máscara
quadrado inscrito em círculo

Currículo perpétuo
De um feto abortado
penitência e sacrifício
imprudência
imprudência
ciclo imperfeito e 
esquecimento.

Um café
Na solidão
Do meu quarto

Um olho
Que se deite
Sobre mim
nada cabe na íris desperta
nada cobre a fenda aberta
vergonha nunca
pudor talvez.



PAR - PT e Dante Pincelli

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Clichê




Quero um amor clichê
que beije toda manhã
com bocas de rumba.

Que desafie a lei 
da impenetrabilidade.
Um amor de profundidade.

Quero um amor perverso
que chupe meu pau
e me vire do avesso.

Que me desafie
e lamba do meu saco 
até ao meu cu...

Que me recite versos 
e se deixe penetrar todo.
Quero um amor bobo.



Dante Pincelli & Paulo Ramos

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terça-feira, 11 de abril de 2017

"Altíssimos"


A cruz pelas costas,
as estranhezas
das fés impostas.
Flor de lótus!
Flor do lodo!
Pétalas à parte
miolo de todos.
Queres fazer linha de caminho?

Queres fazer destino
de fé sem gosto?
(Ladainhas de outubro)
Novelas de agosto...

Pregos nas mãos
da tua dor...

Perigos nas mãos
da tua dor,
da tua dor,
da tua dor.
Da palavra da tua dor.
Da sentença da tua dor.
Da tua dor.

Da toada do tocador! 
Da trovoada do trovador!
Salve as cascatas da mãe.
Salve  machado do pai.

Salve as peripécias
de nós, filhos...
E do espírito do porco, também!


Paulo Acácio Ramos & Dante Pincelli
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