segunda-feira, 30 de maio de 2016

Ingénuo Verso



Ingénuo Verso


Só dá nós
viajando a dois nós
por poesia quadrada

cada milhômetro
uma intimidade,
fico atónito,
longe é perto
se der vontade...

e o que der
se for vontade
o que vier cedo ou tarde
seja o que for será poema
na Trofa e em Macaé
no Japão ou Nicarágua

tudo neste oceano de amor
é terra e água
é barro moldado à nossa imagem
ingénuo verso e pura sacanagem...



Dante Pincelli + Paulo Acácio Ramos

Maio 2016

quinta-feira, 26 de maio de 2016



Oceânidas


Meu cuspe borbulha tua fenda
Faz bolhas estoura e escorre
Meu sangue pára e meu leite
Corre em tuas entranhas

Navega, esperneia, esparrinha
De brancos teu rosa-cheiro
Teu peixe, tua posta, teus belos filés
Num viés que enverniza-me
Que inferniza-me na hora em que não te tenho...

Me empenho numa impossibilidade
Por distância, por oceanidade.
A verdade é nua como eu
Crua como tu…
Poesia é profundamente azul.



Paulo Acácio Ramos e Dante Pincelli


Maio 2016

quinta-feira, 12 de maio de 2016

"combinados?"


Desenho:  'O caracol e o passarinho" de Paulo Acacio Ramos.



(Dante Pincelli e Paulo Acacio Ramos)




to te escrevendo
 porque não tenho nada pra te dizer

nada sobre coisa alguma

mas fazes-me falta aos olhos
 e tua pele arrepia a minha
que por leitura te toca

to te escrevendo porque quero ler-te
 pouco importa a resposta.

mas não tenho nada a dizer
sobre a estrutura familiar do novo milênio
 sobre as políticas sociais capitalistas
sobre os ataques terroristas
sobre o ponto de vista de ti
 vista do espaço

se não há o que dizer
 a gente combina
escrevemos só a primeira letra
e o resto a gente imagina.





domingo, 8 de maio de 2016

II Festival Stella Monteiro de Poesias. Rodada 4


Stella Monteiro




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"Janela Lateral"

(Izaura Carolina)



 
 
 
 
Macaé-Rio de Janeiro
 
 


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"consumir"

(Vinni Corrêa)


é como sumir
com o sumo
da sociedade



Rio de Janeiro-Rio de Janeiro



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"O sol"


(Zecafran)



O sol que vem de trás do mundo
  Transeunte vagabundo
  Vem a rosa despertar
  Vem beber no jardim
A madrugada
Que a moça poesia
Da janela viu passar...



Niterói-Rio de Janeiro

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"Caju"


(Jorge Luiz)




 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro-Rio de Janeiro
 
 


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"Tangerina"

(Alhadef)




6h.
9h.
Juntas numa tangerina
Os pedaços
Da casca,
pouco a pouco
Se aglutinam
Num canto do quarto
Esparramados

pelo chão
Como a roupa que eu queria
Que fosse tirada
Len ta mente
Começando

pelo dia
E acabando em outra vida.
Dois lados da mesma moeda:
Você tão romantismoclassicismoparnasianismo.
Eu sou moderna.
Você é rebuscado;
Sou acabada.
Você é
Poesia;

Sou prosa.
Não entendo teus enigmas;
Tu refuta minhas metáforas.
Sonho com o futuro,
Tu escreve odes ao passado.
Você é anacrônico,
Eu também sou

Macabra.
E é por isso que não existo aqui, só existo
Quando descubro
Qual das tuas linhas
Há de tratar de mim;
Vocé é raiz, Taverna,
Surrealismo que explana
Em mim;
Sou fruto,
Choupana
Sou partes

aos avessos,
Mas nao há
Outra metade.
Eu tenho varios gomos
Pra você saborear.




Fortaleza-Ceará



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"Vai aí, doutor?"


(Cinthia Kriemler)


vai uma graxa, doutor? pra me ajudar com a miséria desta vida de pilhéria?
só um trocado, senhor! se não puder dar em nota
umas moedas pequenas já enganam a fome, a dor
ah, e a cera sai tinindo! preta, marrom, incolor
 
 
vai uma bala, doutor? pra me salvar da cachaça do padrasto que me ataca?
só uma bala, senhor! se não quiser da mais cara
a pequena, mais barata, já impede a surra, a dor
ah, e ainda pode escolher! morango, menta, licor
 
vai uma transa, doutor? pra eu comprar o meu pão neste dia sem tostão?
só uma trepada, senhor! se não quiser da completa
diz a sua predileta,é questão de combinar
ah, e é tudo bem depressa! pra ontem, pra agora, pra já
 
vai aí, doutor, por favor! um dinheiro pelo amor
de Buda, Deus ou Alá
que se tu não me der uma grana 
eu vou ter que te matar
 
 
Brasília-Distrito Federal
 
 
 
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"100 % Reciclável"

(Paulo Acácio Ramos)




Trofa-Portugal




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"O nariz da minha mãe sangra..."


(Carvalho Junior)


enquanto o político derrocado
  posa de moralista na estação de rádio,
o nariz da minha mãe sangra.

enquanto jogam peteca a cidade e o caos
  nas fendas da ladeira vermelha do sono,
o nariz da minha mãe sangra.

enquanto o trânsito segue áspero
e a delicadeza murcha
nas hortas e palavras (dos homens?),
o nariz da minha mãe sangra.

enquanto as filas não diminuem
no número de desrespeito
e o farmacêutico vende pílulas antiamor,
o nariz da minha mãe sangra.

como se falasse com Deus,
toda vez que me toma nos braços
e me embala com o curioso cântico
— tingadonga-donga-donga/ tingandanga-danga-danga —
o nariz da minha mãe
morre o sangue e vive o sonho.


Caxias-Maranhão



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"quando releio o que escrevo."

 
 
 
(Dante Pincelli)



escrevo, me invento, me reverto no inverso de cada verso que arremesso por extenso, penso, esclareço, meio tenso, meio leso, meio a esmo, exclamo, chamo, amo em cada fina linha que, de minha, passa a tua, nua e insinua o desate, o empate de cada fato, boato, de cada lógica, andrógena, alucinógena,,, me permito cada palavra no oco âmago de cada pensamento que invento e que alimento em cada rota sem sentido, em cada sopro no ouvido, agudo, ativo e então, só então, nasce o escrito, tornando-se real e dito o que andava tão somente escondido e aflito,,, eu escrevo e me reescrevo como escravo das letras que pingam lentas no peito frouxo ou na unha mínima do planeta,,, meus sentidos passam afazer sentido e lido com o que faço, mas se quiser, desfaço cada laço atado por meus escritos,,, escrevo enquanto cresço e leio o que mereço quando releio o que escrevo...
 
 
 
Macaé-Rio de Janeiro
 
 
 
 
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Obrigado a todos os participantes deste festival, bem como a todos os leitores.
Sem vocês nada disso faria sentido.
 
 

domingo, 1 de maio de 2016

II Festival Stella Monteiro de Poesias. Rodada 3

Stella Monteiro



O tema desta rodada é

"ABSTINÊNCIA"


sugerido por
Redson Vitorino


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"Furor"


(Izaura Carolina)







Macaé-Rio de Janeiro



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"Meu dia"


(Redson Vitorino)




Meu dia foi lindo

 como um dia de caridade num hospício


Um show com a barriga

 vazia vendo as crianças

famintas de batom tomando

 lugar de cristo
Carimbado com a marca da
 besta eu sorri quando a
 lágrima que escorria era só
 mais uma inundação
A estética do sofrimento que
 se disfarça com um punhado
 de notas no quinto dia útil
Foi meu dia como manhãs
 orvalhadas do meu túmulo natal
Resistência queimada e
 água salgada sob a pele
negra lembrando que foi escrava
O meu dia foi tão lindo
quanto um dia de caridade num hospício
O chão que não é derrota
 enquanto os pés tateiam
 livres outra moda
Outra derrota assistida
 em algum tubo na esquina
Brindo os arranhas céus que
não chegam nem perto dos pássaros
Meu dia foi tão bonito
como um dia de caridade num hospício


Petrópolis-Rio de Janeiro



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"Nada a Dor"

 (Paulo Acácio Ramos)








Trofa-Portugal



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"necessidade"

(Dante Pincelli)



me abstenho da escrita, o que tenho não saltita, me empenho, faço fita, mas de onde venho, é maldita, a sina de quem cita, incita ou insinua, mesmo que crua, a sabedoria rebuscada, a visão mais ousada, a opinião abalizada, a inesperada teoria, o balde de água fria em quem só queria a simplicidade, em quem já sabia a 'verdade', como mais que a metade do mundo conhecido, a qualidade do que for dito, o mito tornado real, o grito amoral, o infinito consensual... afinal quem, como eu, nasceu e cresceu ali, não pode ir muito além daquilo, porém meu ego tranquilo, que outrora encontrou asilo na escrita, hoje evita que seja dita qualquer palavra que comprometa o passado, que cometa algo errado e, escolhe o lado do iletrado...permaneço calado...




Macaé-Rio de Janeiro



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"ABSTINÊNCIA"


(Jan Neves)



Da privação que chega aos sentidos
Afloram gemidos escondidos n’alma.
E não há calma que apascente o drama
De suportar todo meu ser em trauma.

Da reivindicação contrita vem um grito que se cala
e do desespero interno vem a dor que trava a fala

Na urgência de satisfazer minha carência,
Em choque e envolto em tal querência,
É que sinto de meu nervo o estremecer.

E é na falta que encontrei valor no ter.



Rio de Janeiro-Rio de Janeiro




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"Abstinência"


(Ivan Placido)



No ápice da loucura,
De pernas para o ar,
Há quem diga que perdura,
De verdade queria voar...
Mas como se faz sem candura?

  Só um anjo me levaria tão alto...
Iria sem medo de me arriscar,
Pois em ti encontrei respaldo...
Querendo apenas contigo estar.

  Como os que deixaram de existir,
Como os seres que aqui estiveram...
Me pareceu utopia,
Ter você, por completo.
 
Queria erguer a cabeça,
Quando dei por mim, um delírio trêmulo me tomou,
Queria estar em teu colo,
Porém, sozinho estou.

  Disforia transitória, que toma conta de mim,
Nos fios crepúsculos de teu cabelo,
No balançar de cadeiras,
Na tua pele de marfim...

Nem na falta de um opiáceo,
 me abstêm assim,
Sem eira, em uma loucura só,
Mas sem tu, viro pó.
Sinto falta do teu mantra em mim...

  Como fênix nem um pouco sou,
E das cinzas jamais poderei ressurgir,
Das loucuras de que me fodem a cabeça...
A única que preciso, é de ti.


Belford  Roxo-Rio de Janeiro



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"MARÍNTIMO"

(Rai Blue)


Tua boca me assalta
quando atravesso a noite alta
tem gosto de povo
cachaça
da solidão das ruas
de madrugada
e o mar ejaculando nas pedras
respingando em meu ventre.
Tua boca me morde
como essa angústia de ser
sempre outra
que se move
para longe

náusea
tão náutica minha carne
nessa hora
à deriva explora
tua ausência
como de costume
costumiza o tempo
num bordado marÍntimo
de pelo e sal. .



Salvador-Bahia




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Atenção
 todos os participantes do festival:

A 4ª (última) rodada do
II Festival Stella Monteiro de Poesias

Será de tema

"Livre"
(envie o trabalho que quiser)


Todos estão convidados!!!



Obrigado a todos que participaram até aqui:
Vocês fazem a diferença.!!