sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

As Aventuras Estáticas do Super-Anti-Herói!



quando achei que tudo era sobra
a sombra do novo grito me assaltou

pirata dos dias perdidos sem mar
procuro nos ventos a terra sem fim

o mesmo vento, redondo e gelado
abrandava o que saltava em mim

fazendo cócegas na alma incerta
que grita, se agita e esperneia

pirata sem barco, barco sem cor
cor sem mar, mar sem sereia

praia sem areia, recifes sem dureza
e a pureza de cavalos-marinhos cor de fogo

e tudo culmina nesse lasso jogo
de se ser sobra na decadência insana da obra

palavra sem viço, som sem sustenido
apenas um resto mantendo o todo roto

um roto, um espirro, um arroto
diante do espelho: lágrima e silêncio

até que um grito vomita o basta
e liberta pensamento, palavra, porrada

arrebenta na cara por tudo e por nada
granada sem razão e dinamite sem explosão

ogiva nuclear sem direção, comando alterado
chuva de versos, luz de afetos

a cabeça que arrebenta a cabeça que arrebenta
estouro explosão estouro e um silêncio mortal no fim

ah salto!!... de grito em grito, de sobra a sobra
de ferida a lambida, estou eu à prova

garganta rasgada e limpa por corte certo à navalha
o grito que gritava tão aflito não mais se faz grito

assoprei as velas do festejo com orgulho das marcas
hoje amo a face verdadeira, eu queimei as máscaras

atirei vaidades à fogueira saudades à fogueira
deixei brotar verdades na figueira do inferno

resplandecente eu vi, nascer o agora em mim 
tão eterno quanto puro, tão carente quanto absurdo

corpo fechado e imune a mandingas doenças amor
corpo flechado Sebastião Carnaval de Janeiro a Janeiro

a língua transa palavras move montanhas revira latas 
...noites são dias para os sonhos, sou de lixo a tesouro

som de lixa e de tesoura nas garras da moite amontoada
o ribombar dos trovões e o reluzir dos camaleões

corpo helicóptero com pás de veludo a trocar o disco
a tocar modinhas do tempo sem ritmo do Entrudo...

Criação do Coletivo Uni-Versos Poéticos
BR - PT 27.02.14

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

... e de repente, quase como sempre, assim se passou:



dia cinzento, céu rabugento, espiando no quarto
cama de dor, corpo sem par, TV, cobertor

meteu o pé na porta, abriu o peito, penteou a estima
botou o sorriso mais florido e saiu do inferno interior

correu para o inferno da rua na esperança de chuva
na espera de um revelador raio de sol abrasivo

mas se distraiu com pássaros enfeitiçados
que voavam poesia em orgasmos de sonhos

e as borboletas metamorfoseadas em queda-livre
a deixar rastros de luminescências coercivas

rasantes e evasivas dos olhos noite
açoites, Sibila, queda livre, inferno

que voltas dão os ventos que invertem os tempos
que trazem as tempestades que se lêem em teus olhos?

que intenções têm os raios a cortar a madrugada
e iluminando a fenda da descoberta da seda dos dedos?

o medo da liberdade sem magia e com ilusão
das mãos tecem segredos diluídos em devaneios

40º de sonhos camuflados no travesseiro
a espera é uma porta aberta em busca de sossego

esse calor insosso de suores intensos e alfazemas
diluição de metais em meios alcalinos e saudades

um boca a boca de dar dormências no couro cabeludo
tantas dobras tantas aberturas tantos segredos e tonturas

Peguei o sonho e o espanquei, morri em orgulhos mais uma vez
Mesmo respirando seu hálito... te deixei no abandono

abandonado e triste se entardeceu sem mim
daí morri, por um tempo que não pude medir

pedi perdão perdi pendão acordei com muito sono
olhei em volta ainda tonto e dei por mim no mundo insano.

Criação do Coletivo Uni-Versos Poéticos
BR - PT 24.02.14

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Ela é Craque!


Ela vinha toda ela toda minha e não sabia
que ele vinha todo ele todo meu...

Então vinha que vinha e sacudia as cadeiras
batia com os pés no chão e sorria da loucura

Quando rodava e levantava a saia
Com um sorriso malicioso

e se ouso me rir dela que era minha e não sabia
lembro dela o riso d'eu não ter sido aquilo que queria

e se ouço dela que é tão minha quanto dela
era o riso que me dava e o gozo que me tirava

Marcava o desfecho dos fechos abertos 
Cobertos com lençóis de seda

rodava perdida como se sedada rodava
a boca aberta os olhos arregalados

Entre o riso que me dê e o gozo que me tira
só o sexo não me cheira a mentira

Nosso sexo na boca dela tão alimentar
ela de quatro cadela elementar e eu nela

E no deita e rola, vai-e-vem cá meu neném
Na anca, nela, calo e chamo de gazela

ela não para... freme... grita... toda gata e pede e canta
ela pede para não parar toda crente... toda santa... toda puta

e me encanta, canto, riso, vulva e mais garganta,
e eu que fui almoço e já estou virando janta

ela se deixa, faz-me chá e faz-se gueixa cobre-me 
a cara de xoxota, lava-me a cara e me deixa sem ar

e ela bate um bolão rebola a bola no campo e no chão
ela é toda ela e mais que ela é mais que tudo que vier à mão

me cobre de cheiro de água e tempero destila meu leite
me dá de comer entre os pelos uma carne melhor que o pão...

Criação do Coletivo Uni-Versos Poéticos
BR - PT 22.02.14

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Ao som dos Atabaques



Há um fogo que lambe
a superfície das águas

um olhar que esconde
a película das mágoas

um sopro que seca
as dores , as chagas

e os anjos que tenho
são tão assimétricos

que dormem colados
à cutícula do espelho

protegendo o reflexo
do eu verdadeiro

olho assombrado a tua
capacidade de ser bonito

terreno e etéreo
metamorfose incompleta

presa no tempo
asas da liberdade

dores do esquecimento
lembranças perdidas de dor

que sangram você e eu
em tentativa de amor

feridas lambidas
para curar a dor

e o sangue que escorre
nas rachas do espelho

apodrece as veias
dessas fendas fundas

o leite a boca os dentes
tudo tão branco e tão vermelho

o sangue do mês, o esperma da vez
tudo tão vermelho e tão branco

e o corte há o corte
ah o prazer do corte

libertando tripas incômodas
histórias de vida e morte

agora é tirar esses cabelos do ralo
e seguir atrás da sorte

cabelos trançados, trocados
patuá de fitas, fadas, fados, fodas

Bamboleados com xamego dengoso
Corpos untados marcados pelo atabaque.

Criação do Coletivo Uni-Versos Poéticos
BR - PT 18.02.14

A Última Missa em Itaquaquecetuba



Caravela que vinha descoberta
de suas velas ao sabor da pimenta

na planta dos pés samambaias
Dormideiras em flor Jacutingas

em nós, mais trilha salgada
em nós, moscada

Saíra Tiê-sangue Sabiá
marinheiros em deriva atlântica

Pisam em olhos de jabuticaba
Há tormentas no céu da boca

Europeu Africano Indígena
que o acaso natural miscigena

quem te fez cor e amor e cor
também te faz dor e flor e cor

quem te fez, fez bem cozido
em panela de misturas e sons

quem te fez, fez bem assim
fez-te bem mal assim e assado

bem presente, mal passado
o que é bom se come cru

e pelos beiços que lambem as beiras
e as costas expostas brasileiras

bota lenha na fogueira
vem aí a inquisição.

Primeira missa caramuru
Rei português de pau na mão

rei do Gabão
de pau no cu

tropical vereda de novela
enredo de aparecida bandeirante

galinha d'angola no chão
e no céu Rei Urubu

Romeiro Tropeiro ou Retirante
Para a Televisão tudo pau-de-arara.

Criação do Coletivo Uni-Versos Poéticos
03.02.2014