sexta-feira, 29 de abril de 2011

"solidão de poeta"


a solidão da madrugada
me transformou em um poeta
ouço sons no vão da escada
vejo naves feito seta
sinto a boca ressecada
e as fragrâncias mais secretas...


a solidão é a companheira
dos meus dias insensíveis
minha amiga verdadeira
envolta em roupas invisíveis

seu sorriso é de mordida
sua voz é atonal
sua face é morte e vida
sua alma é bem e mal...


a solidão da madrugada
me transformou em um poeta
ouço sons no vão da escada
vejo naves feito seta
sinto a boca ressecada
e as fragrâncias mais secretas...


a solidão é mais um passo
rumo ao total tormento
invencível por cansaço
imbatível em sofrimento

dia a dia ganha espaço
dentro do meu peito lento
está presente no que faço
e nos versos que eu invento...




(Canção de Heitor Nascimento e Dante)

1997

quinta-feira, 28 de abril de 2011

"índice".


temática. vida. viver por procuras infindáveis. trocar. amar. tentativa de preencher as faltas. o espelho. a imagem que se interpõe entre o ego e o choque do real. proliferação de relações interpessoais. relações impessoais. planetas girantes na órbita terrestre da terra. se afundar no espelho e suar todas as gotas do oceano humano que há. ver e ter o seu outro completando cada movimento, cada pensamento, cada palavra, sempre uma resposta, quase sempre inadmissível, impensável. voar com asas exatas de um anjo-beija-flor e beijar seja qual flor for. alinhamentos de olhos e trajes. para cada ocasião um brilho a mais ou a menos. a menos que se esteja completamente completo, rola uma dúvida, uma dor e, é aí que os poetas crescem, tecendo de palavra em palavra, de ponto em vírgula seus poemas antropomesológicos. paro e penso, logo viajo...







1986

quarta-feira, 27 de abril de 2011

"momento amargo"






me recusou a mão

me recusou o olhar

porra!

onde está o bom senso

que há muito me fez

gargalhar gargalhadas

gerais?


'momento amargo'



me rehuso la mano

me rehuso la mirada

carajo!

donde esta el bueno senso

que hay mucho me hizo

carcajear carcajadas

generales?











terça-feira, 26 de abril de 2011

"rai cais".



'musical'

um acorde de dó
sustenido diminuto, prepara
acorde em raio de sol...



'nu'
a lua boiava nua
eu, sem graça, disfarçava
você nua me chamava a atenção...




'duas cores'
te esperei por toda a noite (cinza)
resolvi esperar mais um dia (cinza)
tô esperando até agora (roxo)...




'preferência'
gosto quando você se despe
se veste, se pinta, se comporta
mas prefiro quando você me ama...




'musicalidade'
harmonicamente, como vai aquela canção
que te dei forma e som
entre abraços poéticos e beijos melódicos?




'penso-ciclo-penso-ciclo'
naturalmente, o ciclo faz reciclarmo-nos
primordialmente, o reciclo faz pensarmo-nos
essencialmente, o pensamento é livre...




'mentira e verdade'
te revelo uma mentira trágica
que nunca pude tê-la
depois digo umas verdades amenas...





'o trem'
naquele lugar não há o partir
o voltar, esqueceu-se há muito
lá, o trem nunca pára...




'sem pressa'
a vida não se faz de uma hora pra outra
não se nasce, cresce e morre em um dia
então, calma que eu já vou...





'robe'
de todos os robes que eu tive
o único que ainda cultivo
é o de querer ser feliz...




1991

segunda-feira, 25 de abril de 2011

"ao rico poeta rico".


um rio de letras
a quem procura palavras
um novelo feito em sílabas
a quem divaga
no labirinto infindo dos versos...

mas a você ,
que perde-se tão poeticamente
procurando efêmeras palavras
e, que se acha tão completamente
bussulando o norte lastro
dos dizeres,
apenas gotejo linhas,
poeto becos escassos
até que você saque
um rio multicor
do seu pulso esquerdo
e os mapas do planeta verso,
do bolso inverso...

é bom (po)estar com você...




1992


sexta-feira, 22 de abril de 2011

"3 poemas".


"poder"

viajo
nas possibilidades,
fundamentado no viver...

mas, na verdade,
reconheço,
você detém
o poder...











"ocaso".

sigo lento
rastreando
o meu ocaso
que iniciou-se
com o fim
do nosso caso...


"prognóstico".

prognosticando
o que, juntos
ainda nos resta,

dá pra viver
(acontecer)
àté morrer

e com a sobra,
fazer uma festa...




1992

quarta-feira, 20 de abril de 2011

"quem sou? (outro)


já quis ser tudo
já fui nada
não me iludo
sobrevivi à estrada...

hoje, 'sou qualquer coisa
que gira nesse planeta
suor de papéis
em uma gaveta'*...

sou brilhante
sou multicolorido
sou opaco, frustrante
desbotado, fodido...

'sou o ar, o átomo
o rio que passa sem pressa
sou o corpo que não pára
e a cabeça que não pensa'*...

sou fino, educado
penso, logo existo
sou o destino desgovernado
sou soldado, sou o cristo...

sou um tempo que virá
sou a medida do amor
sou a morte do sabiá
que ao morrer desafinou...

sou tímido na razão
sou amigo do chacal
sou a voz e o violão
a extinção do animal...

sou a promessa desfeita
o carnaval que não brinquei
sou ateu e sou a seita
como deus não funcionei...

sou o jogo de empate
a ilusão de melhorar
o martelo, o alicate
sou o fio, o tear...

sou qualquer coisa agora
lá fora, não sei mais
sou o olho quando chora
ou tenho amor, ou tenho paz...


1993



*Beto Miranda, 'sou qualquer coisa'.

terça-feira, 19 de abril de 2011

"17 anos da morte da alegria do futebol".


pois é, o Dener morreu e eu, esperei pra escrever sobre isso, só depois do 1º jogo do Vasco sem ele, após a 1ª vitória em homenagem a ele e, que seria sobre o Flamengo, o arquirrival, o inimigo número um,,, mas o Flamengo, estraga prazeres, estragou o que já estava estragado , não respeitou nem a tristeza vascaina e venceu por 2 X 1,,,e o Dener (lá de onde estiver) deve estar "morto" de raiva de não ter se aproveitado daqueles boqueirões da defesa rubro-negra , de não ter podido fazer uma fila de adversários urubus atrás de si,,,pois é, o Dener morreu e, com ele, morreu muito da alegria do futebol,,, Dener, dono de um estilo único, que se resumia em partir com a bola dominada driblando rápido em direção ao gol, mas por um caminho que parecia ser o mais difícil, um caminho que só a sua genialidade poderia vislumbrar e que deixava os adversários atônitos, os companheiros radiantes e a torcida estarrecida, estupefacta,,, Dener e seus rompantes de futebol moleque, que nunca se rendeu a qualquer tática "infalível" de futebol moderno,,,
jogava do modo mais primordial, o bê-a-bá da coisa: talento, criatividade, velocidade, objetividade, molecagem e amor, muito amor ao futebol,,, Dener franzino, homem e menino,,, Dener, mas que poderia ser tuiuiú, jaburu, garrincha ou qualquer outro pássaro desajeitado e elegante, veloz e belo,,, como era belo aquele menino, parecia um menino brasileiro, alegre e vadio,,, como era lindo o seu jeito de jogar, sempre inventando o ininventável, o inesperável,,, pois é, o Dener morreu, mas os dias foram passando e nos consolando devagarinho, até que hoje de tarde o Vasco entrou em campo e, a torcida lastrando em dor procurou inutilmente pela camisa número 10...






Dener morreu em 19 de abril 1994, vítima de um acidente de trânsito e, esta crônica foi escrita 5 dias depois, logo após ao término do jogo Vasco 1 X 2 Flamengo. Neste jogo, o jogador Yan substituiu o Dener e entrou em campo com a camisa 21.
Detalhe: O vasco seria tricampeão naquele ano e, só perdeu aquela partida.



Saudações vascainas!!!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

"pássaro mágico" (samba-bossa nova)


eu quero ouvir você cantar
meu bem espalhe
um pouco de música no ar...

canta meu pássaro mágico de plumas
acende clareira na escuridão sem fim
me leva pro ninho-banheira de espuma
acidoce alucinado, nó em mim...

eu quero ouvir você cantar
meu bem espalhe
um pouco de música no ar...

escorpião de fogo no inverno
eterno namoro que aquece esta canção
já te fiz um poema do meu amor sincero
eu já tentei, mas nada supera a emoção...




1997


quinta-feira, 14 de abril de 2011

'visões".


pontilha linha
o horizonte virtual
oscila, alinha
a fronte humana real...

camurça de rio
corre liso
lambe pedras...

astúcia de céu
ora pára, ora paira
joia rara
anuncia a queda...

e lá
onde alcanço o olho
o horizonte pontilhado
nem percebe
e bebe o dia
por detrás
do meu telhado...




1992

quarta-feira, 13 de abril de 2011

"você na representação escrita e eu te amando".


os exatos extremos,,,

estereótipos: macho e fêmea...

meu lacre violado
por teu tempo
que respingou dezenas de desejos
no guarda pó
da minha infância
e desabou nosso teto
e ficamos sob os escombros
do bem e da maldade
sem saida para o desfecho de nós...

sei do teu cheiro
que inundou de desejos
o quotidiano
de verbos e gestos
que jaziam em mim...

por eu tentar soletrar
teu livro caótico
é que pude quase entendê-la
de trás pra diante (energia)...

teu brilho
ofuscou meu apelo...

teus dentes
cortaram meu signo...
teu signo
sugou meus relatos indolentes
libertos de ânsia de amor...

com tua faca
cortei os elos
do choque com a coerência...

dos cachos dos teus cabelos
fiz um travesseiro
e dormi na cama do peito,
no leito do rio
que sangrava púrpura
em desatino...

agora sou eu e você
em busca da sobriedade
do sonho vivente
a dois,

e depois,,,

continuar amando
com sol, sal e cio
perfeitos pra uma noite
em nossa cama
e desfazê-la
com certo carinho
sexo
e vida...





1984

terça-feira, 12 de abril de 2011

"a pro-cura" ou "a cura-pró".


quando perco as forças,
quando me sinto frouxo,
meu inconsciente me toma de assalto,,,
grito alto,,,
não sei bem quem sou
ou quem quero ser

por vezes sou alguém
que rodeia seu próprio corpo
em torno de um jardim,
imaginário jardim,
que delícia, o eden,,,
sou o em.

ou sou a delícia
que roçou teu paladar
e escorregou por vias
até arenais e venosas sensações,,,
sou os sons.

sou também a veia
que carrega o néctar
que te manteve
vegetando por entre as flores
daquele jardim,,,
lembra de mim?

sou o vegeto
o dejeto
que caiu por engano
rente ao litoral
onde carneiros pastavam
e crianças brincavam
de se aquecer,,,
sou o ter

sou a lã
o ímã
o domingo de manhã
que você, com sono,
não viu passar
sob sua janela
empoeirada há semanas.
iguanas nas pedras
do box do teu banheiro,,,
sou o chuveiro.

sou o primeiro
o dinheiro
que te comprou
um prato feito
como obra de arte,,,
sou a parte.

sou o inteiro
o posseiro
dos teus dias cansativo.
sou vivo no olho
mas olho o quase nada
de mão parada,,,
sou a escada.

sou a cilada
a estrada
que me levou ao insano
que eu mesmo
não suportei ver.
sou o ser
que colore os caminhos
que levam a pernambuco,,,
sou o eunuco.

sou quase maluco
e te fiz um filho.
sou o trilho
de onde você descarrilou.
sou as ondas de energia
que te jogam
contra a parede,,,
sou a rede.

sou a sede
que molhou teu cabelo ralo.
sou o galo
que não cantou
ontem de noite,,,
sou a garganta.

sou pessoa santa
embora minha imagem
não pertença ao espelho.
sou o velho, o novo e a roda.
me gastei em tentar
descobrir ladeira acima.
sou a rima preciosa
que falhou no teu poema.
sou a algema
que te soltou depois da porta.
sou a morta
que viveu seu sonho lindo
e ainda passa rindo,,,
sou findo.

sou o destino embaralhado
que você guardou
junto com as cartas,
entre o ás de copas
e o valete de espadas,,,
sou o elmo.

sou o oboé
que você soprou
e não tirou som.
sou teu pé com bolhas
exausto de cruzar caminhos
a procura de si mesmo,,,
sou o esmo.

sou minha casa
que me protege da chuva
mas me entrega a mim.
sou meio sem fim,
e desfolho-me lentamente
procurando folhas em branco,,,
sou o pranto.

sou o branco
que cobriu-me
algumas noites
mas deixou-me, um dia, só,,,
sou o nó.
sou o nós.

sou a voz do cantor
que cantou
até virar cigarra.
sou a barra
de quem canta
mas precisa trabalhar,,,
sou o par.

sou o negror
que assola o teu futuro
de algum lado do muro.
sou o escuro
que te espera
na dobra da esquina,,,
sou aquela menina.

sou a sina
de quem pensa que ensina
e não aprende por opção.
sou o pão,,,
a massa entre teus dedos,,,
as sortes,,,
os medos.

sou o segredo
que me mantém firme
pronto pra negar
o inevitável,,,
sou inviável,,,
infalível.

sou o combustível
que te trouxe até aqui,
e você nem sabe
porque veio,,,
eu sou o meio
que uso para estar no meio,,,
sou o seio.

sou o recheio
quando malhas sem parar.
sou o vagar
não parei porque não quis,,,
sou o feliz.

sou atriz,
e acho que você
pode também sê-lo,
basta romper o selo
que te ata ao gelo
que te atormenta o coração,,,
as vezes, sou a ação...






1991


segunda-feira, 11 de abril de 2011

"moleque Fabrício" ou "feliz". (fragmento)

Fabrício foi um aluno muito especial, tinha mania de virar super herói, antes mesmo da hora da entrada, se podia ver num canto qualquer um bolinho de roupas... Pronto! o Fabrício virou Hulk...
Ele não ficava na sala de aula regular, na minha aula mesmo ele custou a se interessar, até que um dia eu propus que ele fosse o maestro (eu dava aulas de música), desse dia em diante, ele nunca mais deixou de ir a minha aula.
Um dia ele sumiu da escola, quando perguntei, fui informado que ele havia saido... Foi uma sensação de vazio que experimentei, uma espécie de frio na barriga, daí escrevi um longo poema, que agora publico um fragmaento.
A morte de Fabrício é metafórica, na verdade ele saiu da escola.






...ai... vida ingrata
tanta gente ruim a morte podia abraçar
morreu meu amigo, moleque Fabrício
sob meus pés se abriu um precipício
prendeu minha voz, não consigo cantar...


vai anjo, amigo Fabrício
de você, fui um mero aprendiz
vai... que aprendi que o único vício
que se deve cultivar é o de ser feliz...




1990


sábado, 9 de abril de 2011

"os meninos todos de uma vez."

esses meninos no mundo
escrevo pre'sses meninos todos
num rasgo
de um eterno segundo...

pros meninos que mudarão
o destino do planeta
pros meninos que são imensos
e ainda crescem
na ponta da minha caneta...

todos os meninos que brilham
entre estrelas de todas as grandezas...

os meninos que reinam
e sonham que são reis...

pros meninos
que brincam de qualquer coisa
e brigam por coisa alguma...

quero estar no coração de cada um
aqui e no século vinte e um...


Série de poemas pros alunos da 2ª série/1992 da EDEM.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

"as meninas."


1
as vezes olho
e lá vem ela
sorrindo um beijo
Manoela...

as vezes brinca
de ser singela
beleza pura
Manoela...

as vezes oculto
mas o peito revela
o amor, o brilho
de Manoela...


2
que segredos tem
Clarisse
que um dia me disse
pra seguir
o caminho do coração?

tanta doçura
tanta meiguice
tanta ternura
tem Clarisse

que me inspirou
esta canção...


3
qualquer pessoa
em te conhecer
sorri

depois de te ver
sei que vivi

qualquer vivente
em felicidade mergulha
depois de te ver
assim
tão Júlia...


4
Lina
é uma princesa
que rola no mundo
e nos alucina...

Lina
é dessas
que nos ensina
o que da vida
nos fascina...

que o planeta,
um dia,
seja totalmente
Lina...


5
quem busca um sonho
não vacila...

quem pega num sonho
não cochila...

sonhe um sonho
Ludimila...


6
ela vem
veste verde
as vezes rosa...

perto dela
ser infeliz
é mais difícil
que um camelo
passando
no buraco
da agulha...

em torno dela
tudo é luz
tudo é Julia...


7
uma jóia
muito rara...

uma pedra
mais que preciosa...

uma pessoa
da nova era...
uma Pérola
grandiosa...






Série de poemas pras minhas alunas da 2ª série da EDEM/1992.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

"dor."


um deputado
diz que ser negro ou gay
é sinônimo de promiscuidade...

um imbecil atira
na cabeça de crianças...

o que vem depois?

atear fogo a negras gordas?

esquartejar homossexuais?

explodir hospitais?

hoje não há poesia
hoje não há humor
só um profundo desengano
um desapontamento
uma tristeza imensurável
uma sensação de impotência...

hoje se transformará
num inesquecível e incompreensível ontem...


07/04/11

sábado, 2 de abril de 2011

"da ideia ao desfile, uma epopéia triunfal."


Caros leitores, hoje resolvi mudar um pouco o rumo das postagens para poder mostrar a vocês a história de um desfile de escola de samba, desde a ideia inicial à grande explosão de criatividade, cor e sensualidade apresentadas no carnaval carioca.
Assistam aos dois vídeos na sequencia que eles aparecem aqui.
Obrigado por sua visita e já que você está aqui, que tal uma passeada pelo resto do blog?