segunda-feira, 13 de junho de 2016

"me pesa"




(Dante Pincelli e Paulo Acacio Ramos)
 

Esbarra-te em mim que eu deixo
 explode que eu não me queixo
me derruba e cai por cima
me alucina sob teu peso

rouba-me a respiração
lambe-me a transpiração
transforma em energia
a nossa ação corporal

faça silêncio
 pois qualquer som nesta hora
pode ser início de avalanche
 e o mundo me pesa

qualquer grito calado
pode ser pedra atirada
 qualquer descolar um do outro
 pode ser irreparável perda

 e o medo me pesa
o desejo me prende
o amor me compensa
e teu peso me leva mais leve e mais lento
meu peso te iguala
nenhum dos dois pensa
 e tudo nos paga o peso
 dos corpos em ouro

tudo suave
 tudo leve
nada breve...


terça-feira, 7 de junho de 2016

"As sombras dos Corpos dos Cães" ou "Canis et Circenses"




Corpos de cão
assados de tanto
roçar, raçar, esfregar.
Fazer coisas que querem
fazer, coisas que não sabem
fazer, coisas para aprender.
Corpos de cão...

Nus em pelo
num apelo deserto
de serem amados,
de serem afagados...
Portes de cão,
suporte, superstição
água, abrigo, ração...
Ranço, gordura, emoção.
Como os cães a copular,
como dois, em dose mortal,
a comerem-se mutuamente...
Como os corpos dos cães.
Como os colos das mães.
Como o vazio no peito

Como cães ladrando
pra sarar 
a sua própria sombra.
Como as sombras
que ladram para 
afugentar os cães.


Paulo Acácio Ramos & Dante Saraiva Pincelli

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Dança Densa



Dança comigo
até que as ondas congelem
até que os dias parem de correr
até que eu e tu sejamos tudo.
Dança comigo 
até que a música envelheça
até que o tempo seja vazio
de medo, de luz, dele mesmo.
Dancemos juntos
até que os corpos arqueiem
até que os arcos se partam
sem trunfo, sem cantos, silenciosamente.
Dança comigo
silenciosamente
e usa tua boca
carmim-adoçada
somente pra me beijar.
Dança teus lábios nos meus
como quem lança o corpo
na dança dos corpos
que dançam silenciosamente.

Paulo Acácio Ramos & Dante Pincelli
2016