terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Rosto Lavado

Acorda que o sol já vem radiante
lavar teu rosto com muita luz

Deita-te e deixa-te ficar sob o olho amarelo
desse deus que lambe teus pelos

num prelúdio escaldante
enlouquece o corpo in natura

É o primeiro gozo do dia
resplandece o prazer ao leste

Te despe, levanta, se põe ao ocidente
Atraente, macerá, em noite fugidia

intangível raio que anuncia
a vidavitória da lida lavada

Acorda que o sol já vem
lavar teu rosto com sua luz

acorda e recorda 
borda e seduz

vívidos e sóbrios calos nas mãos
todo dia é uma enxada

acorda o sol que já vem
teu rosto lavado em luz

em luz, disfarce encantado
de pinóquios sorridentes

Carente sorriso da mentira
metamorfose, mariposa precoce

acorda que vem sol lavanda
mudar o cheiro da luz do teu rosto

ou durma pra sempre
foda-se.


Criação do Coletivo Uni-Versos Poéticos.



quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Meia-volta Volta e Meia

Estive a pensar numa forma
e surgiu-me um círculo...

Circulei à sua volta

redondo como eu podia ser...

Sem arestas pra me podar

Apenas curva a tontear os pés...

lamber o chão

criar vínculos

e ao pensar numa forma

minha cabeça anda à roda

Roda de não saia, gira de não caia,

rabo de arraia que vira moda

te convido pruma festa

e o que resta, que se foda

em roda, à roda... por foda?

que seja boa mesmo que mal dada

mal dada? maldade...!

relaxa que tudo encaixa

e a volta e a roda e em volta

tudo anda outra vez à roda

rodopiei em rodamoinho

sozinho na roda da vida rodei

rodo pio giro cio meto tiro

no centro do alvo acerto um tiro

cai de joelhos um breve vazio 

delicadamente, sem pertencer a ninguém 

sem nitidez morre entre versos

com a boca seca de silêncios

Os vazios se revelam

Em obras póstumas...

páginas rasgadas, submersas

esquecidas, páginas viradas.

Letradas em pensamentos

Que o poeta engavetou...

Trancou, lacrou, 

Como corpos em tumba funda

beija, beija, beija rápido 

e fecha o caixão.

Criação do Coletivo Uni-Versos Poéticos.





sábado, 18 de janeiro de 2014

O segundo capítulo de uma dedicatória:


O Cacho 

O poeta nu
é uma surpresa
despido das palavras
isento de roupagens
é só mais um corpo
que expressa
que exprime
que tira leite das pedras

o poeta nu
é uma pedra que dorme
no meio do caminho
uma dor que não há
como pretender fingir

o poeta nu
revela-se em pele
fotográfica
desvela-se em luz
recorta seus contornos
na escuridão

o poeta nu
é o sol e a bananeira
e a sombra
que projeta a bananeira
sobre o corpo nu
do poeta.

PAR - PT
18.01.14

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Meu queridão, esta é para ti...



O Velho

Ele tomava banho
nu no quintal
via-se bem de perto
ou ao longe
que o homem
tomava um banho lindo
lindamente nu no quintal
e tudo era assim mágico 
à volta do homem nu
no quintal
em seu banho
porque todo o banho é lindo
todo o homem nu
é lindo e mágico...

PAR - PT
15.01.14

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

"jaqueroandá"







 
 
sou quase de aço
madrugada
cansaço...

 me forço no oco
madeira
jaqueroandá...

caio impreciso
raio
submisso...

 
arranco sorriso da moça
a força
balança...

não há sorte
no baralho marcado
dos vícios
dos homens...




terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Indivíduos

(Paulo Acacio Ramos e Dante Pincelli)




que sejas tu
quem me cobre
nas noites macias

que sejas tu
quem me sobra
em doces magias

que nos seja
o tempo da espera
crepúsculo dos dias

que eu te seja
unguento de amor
em coisas que ardias

que seja pleno
o entorno e o terreno
pra caber nossa folia

que tenha veneno
abundante e obsceno
e que não mate de agonia

que seja castelo
belo e singelo
na Toscana, na Turquia

abobadado no topo
como o beijo rouco
transbordante que sorria

que nos faça
poesia de tempo
e tempo poético eterno

que nos traga
da amizade antiga
o verso perdido

verso enlouquecido
para compor amor
poético moderno

que nos cubra no inferno
com manto terno
corta-fogo e nunca corte-afago...

a boca beija e toma um trago
o olho vê o outro olho
imprudentemente fátuo.



PAR-PT + O Velho

07.01.14 Trofa-Macaé



quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Cortina




eu vi o monstro
que se esconde
nas frestas
que dorme
nas brenhas
que escala seus ares
na bruma
que abre os olhos
e vê cores
na espuma

eu vi o monstro
que não dorme
seus cílios
no vento e
agita as folhas
com sonhos

eu vi o monstro
e o monstro me viu
mas nenhum dos dois
pareceu preocupar-se
muito com isso...

PAR - PT
01.01.14


Ilustração: Eros Tânatos de Paulo Acácio Ramos