segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

"maravilhoso absurdo"


quero nunca cessar de ser
aprendiz desse teu corpo
que não pára de insinuar
possibilidades
de novos e maiores prazeres.

quero descobrir cada vez mais
o que vai nos
extremos avassaladores
e nas nuances dos meandros

desse maravilhoso absurdo
que é
o nosso
amor...


1998

"perder-se."


nos teus olhos me vejo


no resto




me perco...




1984

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

"musa 6."


"você e tudo que vem de ti."

nada estanca o teu rosto
sempre demasiado presença
meu outro completo (o oposto)
meu guia, meu dote, minha crença...

nada congela-te a palavra
perene, profunda, sensível
meu livro que aos poucos se lavra
nas filigranas da vida possível...

nunca se apagará
você aqui, em mim

e o que virá é sorte
e a morte, vem no fim

"quando eu morrer
não quero choro nem vela
quero uma fita amarela
gravada com o nome dela."



1992



Postado por Izaura Carolina




quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

"da vida e de morte."


teus lábios ainda vermelhos
de sangue venoso
continuam desejando
o meu corpo mortal
e ficamos sentindo
o gosto amargoso
da vida, da morte
do corte e do sal...


e tuas mãos grossas
me afagando gostoso
até que chegue
ao orgasmo total
e ficamos pensando no
no jogo sinuoso
da vida, da morte
do corte e do sal...



é como se nosso leito
fosse parte integrante
de um grande hospital
de vida, de morte
de corte e de sal...



1984

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

"musa 5."


"o grande dia."

ultimamente
tudo tem sido avaria
a vida da gente
só porcaria

mas acredito, sinceramente
que chegará o grande dia
e daí pra frente
totalmente harmonia

e tudo que eu te diga
será tão somente
a mais pura poesia...


2005


Postado por Izaura Carolina

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

"na festa com o único sapato" ou "maldito mulato."

no último sábado, por convite, fui a uma festa, embora com sinusite, vesti-me com seda javanesa, um diamante falso na testa e com meu único sapato, de cromo alemão, que meu amor detesta. festivo e dançante, bebendo alegre-mente transbordante, corpo e alma inebriantes. uma dança, uma bebida, uma paquera correspondida. mais um copo então eu topo abordar a gata que se insinua. mais um gole e de língua mole, convidei-a a ver a lua, lá fora, na rua; antes tomei mais um trago, foi o estrago. trôpego, sem saber onde ir, caminhei sozinho, pois perdi-a no caminho. cheguei na praia entorpecido de fato, mas com o máximo de recato, deitei na areia e adormeci no ato, sonhei com você nua num retrato, a seduzir-me no sentido lato, quando acordei desejei o estrelato, mas quando eu levantei é que foi chato, depois de saber estupefacto que um guarda mulato havia roubado meu sapato... eu sou o maior pato!

1990

domingo, 16 de janeiro de 2011

"radiando."


introdução: (Em / Em6)


......Em
radiante


................D/F#

com um copo de cerveja


.................Gm7C7/9
bebendo teu suco


.......Am7.....( Em / Em6 )

adocicado...


1983



sábado, 15 de janeiro de 2011

"chove choro."


de onde vem essa gente?

gente que se apinha

que se amontoa

forma cidades soci-e-dades?


chove gente engente

chove língua

palavra conversa

é gente á bessa...


eis que um dia chove chuva

rebento de nuvem cheia

cai no mato

cai no monte

cai na cidade

inundachão

escorre árvore

navega pedra

soterração...


cicatrizes virão

outro verão verão

quero o dia

da ressureição do poder

da responsa-habilidade

de lidar com gente

toda essa gente

que se apinha e apanha em cidades

surras de dar dó...


isso é brasil!


2011

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

"MUSA 3".


"a, e, i, o, u."


"a" de aurora
da tua luz
toda manhã
em minha cama...

"e" de ensinamentos
que na convivência
em abundância
se derrama...

"i" de inspiração
que vira poema
de efemeridade
posto que é chama...

"o" de outra vez
a toda hora
um recomeço
feito fio que se trama...

"u" de uni-verso
que une o verso
ao nosso amor
que ora versa e ora ama...


Dante 2004



postado por Izaura Carolina









terça-feira, 11 de janeiro de 2011

" a dançarina. "


em volta da mesa as flores não mais falavam e sequer despetalavam. a noite ia grande e o dia aproximava-se lento e ininterrupto, claramente, porém. então desenrolou-se a cena mórbida, docemente premeditada passo a passo por ela... desceu as escadas vestida como dama e o era. pediu limonada com gelo que chegaria minutos depois. naquele breve espera, ensaiou um ritmo, timidamente, com os dedos na mesa, parecia afoxé, mas eram apenas repiques sincopados. justo aí, chegou a limonada que, num só gole, ela tomou a metade. levantou-se abrupta e dançou ao som do silêncio, de olhos perplexos e perfume de flores. além de bailar, apenas sorria o pouco que lhe restava. dançou o resto da noite. entornou o dia sobre seus pés e pernas e continuou calma e obsessiva o seu bailado. um crepúsculo anunciou outra noite: em volta dela o silêncio de olhos contritos e flores famintas. então bebeu o resto da limonada e saiu com cabelos esvoaçantes. nunca mais ninguém dali, a viu ou ouviu seu nome que, no momento me foge a memória. as flores morreram.

1991

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

"Musa."


" FICAR NISSO"

UMA MULHER E UMA FILHA
UMA MULHER E UMA ILHA
UM ANDARILHO E UMA TRILHA
MINHA MULHER E MINHA FILHA
MEU PENSAMENTO E MINHA ARMADILHA...

E FICO NISSO...


Dante 99



.postado por Izaura Carolina.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

'Loucos."

Há alguns anos atrás, morava em Belford Roxo, em uma bairro chamado São Bernardo, onde a violência era o prato principal do quotidiano, então, numa bela manhã ( 5: h ) de segunda-feira de carnaval, presenciei o que narro em seguida, sentado sob um abrigo de ponto de ônibus, logo após tomei o São Vicente x Central e, ali mesmo, no banco coletivo, pus-me a escrever:





...e passa um carro com seus olhos firmes de farol, louco, como se estivesse com pressa de chegar, mas sem saber onde... e passa um boi e, depois dele, outro boi e, após este, uma boiada com seus olhos tolos, quase tristes, loucos, não tem pressa e não sabem para onde vão, fica o vão... e passa uma criança com seus olhos de vento, louca, vai brincando sem saber que está indo rumo à velhice, sem pressa sua infância se apressa e vai ... e passa um homem com seus olhos de cansaço e medo, louco, vai tão cedo ao encontro da morte que o aguarda em segredo... e passa uma bala sem olhos, louca, vai de encontro ao homem que acabara de passar e fica... e passa um grito, não olho, louco, vou sem poder evitar...




quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

"necessidade."


No ano de 2010, escrevi sobre a minha relação e os meus sentimentos a respeito do lugar de onde eu vim, guardei este escrito por meses, até que um dia senti uma necessidade pungente de mostrar aquilo pras pessoas, o que não ocorre normalmente, então enviei por email pra muitos amigos...
O que me deixou mais impressionado, foi que 2 dias depois o Morro do Alemão foi invadido pela polícia...

Detalhe: O lugar de onde eu vim, ao qual me refiro no texto, é o mesmo que foi invadido dois dias depois de eu enviar aos amigos.

Segue o texto:





me abstenho da escrita, o que tenho não saltita, me empenho, faço fita, mas de onde venho, é maldita, a sina de quem cita, incita ou insinua, mesmo que crua, a sabedoria rebuscada, a visão mais ousada, a opinião abalizada, a inesperada teoria, o balde de água fria em quem só queria a simplicidade, em quem já sabia a 'verdade', como mais que a metade do mundo conhecido, a qualidade do que for dito, o mito tornado real, o grito amoral, o infinito consensual... afinal quem, como eu, nasceu e cresceu ali, não pode ir muito além daquilo, porém meu ego tranquilo, que outrora encontrou asilo na escrita, hoje evita que seja dita qualquer palavra que comprometa o passado, que cometa algo errado e, escolhe o lado do iletrado...permaneço calado...



Ilustração: "Favelinha" de Carlos Ângelo Tortelly Costa

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

"para continuar a escrever."


procurei poemas que me fugiram pelos dedos, quis a raiz dos meus textos construidos lentamente com suores e dores, aliás muitas dores... parti rumo a mim, ao meu interior, mas me perdi num emaranhado de informações e, meu novelo, que garantiria a volta, acabou antes da primeira curva,,, senti-me livre e prisioneiro de mim mesmo, entre amores perdidos, poesias concretas e inideias que esbarravam em mim sem que eu as procurasse,,, parei diante de algumas luzes que vazavam o bloqueio da ideologia contrariada em mim, há tempos,,, consegui me perder e me perpetuar aqui dentro, me senti seguro, mas longe do que quis saber... e também me senti protegido de tudo o que não sei, mas que ainda vou saber, mesmo que sem querer e, continuar a escrever...

1991

"quase sinfônica."

enquanto a calma descansa mansa

esfrio meu medo, desenredo, solidão

o frio arde, fere feito faca

os nacos me saltam astronautas, explosão...

enquanto os músicos

tocavam sinfônicos na praça

selava-se o gelo

que molhou minha canção

harmônica entre beijos de sonatas

melódica qual um samba exaltação...

tudo isso percorre volumosamente

minhas venais e arenosas sensações

seduz sonoras serenatas de sereias

e cifra a dissonância da ilusão...

1991

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

"o jornal não lido, o relógio atrasado, o encontro."

, ali exumou silenciodolorosamente, desejos ainda não realizados e, alguns outros, sequer desejados... percorreu cada beco soturno de sua alma e, com calma, encontrou profundos oceanos que o naufragaram aos poucos como fios de orvalho; ficou sem ter prondeir... tomou uma caneca de vinho tinto vagabundo num único gole, depois outra, mais uma e, novamente, naufragou, só que agora o fizera num sono há muito adiado... morfeu-se pouco antes da meia noite e meia noite sonhou descompassado: necessitava profusamente de alguma uma, qualquer uma ( de dedos exatos ) mão afagadora e massagística,,, pensou que era vero, mas num átimo, duvidou desesperado,,, lágrimas arranharam e morderam sua garganta obturada de nada... no meio de uma manhã chuvosa, cinza-apático, acordou sobressaltado e, há poucos instantes dali, acalmou-se sobremaneira... conjecturou a sorte, a solidão, o não...negou o irreal... mais que queria, precisava um lastro: um cais, um barco, um mastro que fosse... estanteou a bagunça de sua memória e soprou a poeira à deriva... arquivou gracejos, sorrisos e simpatias em geral... a chuva parou... saiu se sentindo horrível e estava mesmo: odiava os passantes sumariamente... comprou um jornal, sentou-se na praça e, sem graça, não o leu, apenas forrou o banco com o caderno de classificados... olhou o relógio, levantou-se, largou o jornal sobre o banco e saiu em passos largos e apressados pensando que ainda tinha um encontro...

1991

sábado, 1 de janeiro de 2011

"amor plutônico."


se num dia
você
num acaso
não acontece
apenas espero
embotado triste olho...

mas se
branca de lua
você passa,
balança,
esvoaça,
meu olho desembaça
e sonho meu sonho
quase discreto,
secreto,
te desejo e fico quieto...


1990.


Desenho: "Fernandinha e o planeta peito"
lápis de cor-1986