terça-feira, 28 de maio de 2013

"de conversa em conversa."




(Paulo Acacio Ramos e Dante Pincelli)


Temos conversa de compadres que nunca mais acaba
conversas de abracadabra, sem padres, sem madres, sem deuses
Papo de irmãos que nunca chega a ter um fim definido
papo infindo, de irmãos chegando e partindo
Jogo de bola de toma lá dá cá feito de passes certeiros
certeza que embola o meio campo, mas nada, que um drible não resolva
Reverberações silenciosas de ocultas horas de sonhos
Sonhos que ecoam sob os colchões dos cadáveres da poesia


A composição das nossas harmonias é dupla e fresca e clara
obra prima, rima rara, morro acima, iluaiê odara
Dobramos versos em cordas e fios de cabelos afinados
despenteamos os acordes menores num solo de xilofone rachado
Retesamos nervos e músculos na luta proscrita das clavas
cravamos setas incertas nos corações dos neo-estetas
No duro depois do suor do fazer as palavras ditas a dois
feijão com arroz, dois ovos fritos sob a gola do sobretudo do poeta inglês


Diante um do outro sem ver sorvemos verões
sol-vemos em brilhos e vírgulas, na cara estampada de feliz
Em nossos corpos cansados das libações outonais
Tocam-se num ínfimo átomo do distante momento
lua, sol, dó, si e, lá, onde a curva faz o vento
Água, cal, pedra, poesia, sangue, porra, suor e cimento.




O VELHO PAR
TROFAS MACAENSIS
MAI/13

segunda-feira, 20 de maio de 2013

TENHA DÓ









(Carla Mariel)




nem me digas onde
supostamente vais
se não pretendes voltar
até o amanhecer
tenha dó
de mim
você não tira mais
lasca


te entendo
e até acho graça
te saco até de
debaixo d´água


de olhos fechados
quando acordas suado
sonhando
com ela


tenha dó
a mim você não engana
sei que há outra
em nossa cama
e até sei quando sonhas
bem acordado
e vais ao céu
perdido na mansidão anil
daquele olhar infantil


e a tristeza te invade,
rapaz,
e não me podes
explicar
nada mais
nosso fatídico
mal me quer
é o cheiro de
outra mulher
e
fico
tão leve
se me escreves
se me notas
se me sorris
de volta
sou tão ditosa e


te saco, sim, até o fim
de olhos fechados
quando acordas suado
sonhando com ela
sonhando com ela




terça-feira, 14 de maio de 2013

Prelúdio Noturno












(Mono Telha)





Dentro da noite balada

o toque do vento

nessa cama na rua

parece encostar música




Ouvido do tio

casaco cobertor furado

marquise gelo social

tocado tipo canção




Assovio vão de prédio

madrugada assim vazia

poesia noturna do dia

percorre corpo sujo




Envolve som ao só

caído calado pensa

nota musical viva




Música do fim vida

doente sozinho deitado

mendigo ao frio lírico 
caixinha de música sepulcral