quarta-feira, 30 de abril de 2014

AMO-TE



Só quero dizer-te 
bem no centro do ouvido 
que te amo...

quero dizer-te 
que te amo 
bem no centro de Oviedo

no centro de todo o medo 
no centro de toda a cidade 
no dentro de tanto segredo 
quero apenas confessar-te 
quero dizer-te 
que te amo

nas sombras 
da oliveiras das alamedas de Olaria

no parque 
no charco
 na padaria

escrever-te 
e dizer-te 
que te amo

como um touro em fúria 
como uma vaca que pasta
num desenho de Picasso

como um suspiro 
que não se basta
 como peste 
como pasta 
como poste

como uma pincelada de Khalo 
nas cores das paredes 
no colo das paredes 
por dentro das paredes

sem muralhas 
sem tormentas 
sem migalhas 
nem miasmas 
só com o mar de amar 
que nos reinventa

quero apenas e tão somente 
dizer-te no canto do ouvido 
que te amo 


quero apenas e tão somente 
dizer-te um conto ao ouvido 
pois tudo que digo é: 
Eu Te Amo

se não me engano.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

“nós”





ninguém desata,
nem nós do morro
nem nós da gravata...

ninguém repara,
nem nós no peito
nem voz sem cara...

ninguém ampara,
nem nós moscada
nem a joia mais rara...







quinta-feira, 10 de abril de 2014

Poesia nas Mãos



apoio separando o joio 
solidariedade na selva na cidade
apenas mãos unidas...

a minha fica umedecida 
como as mãos do suicida 
num átimo antes do final...

é bela a união das mãos e da poesia
é bela a união do corpo com o dia
é bela a mão que semeia as estrelas

é bela a noite do teu corpo
em minhas mãos que te querem fazer poesia
as mãos dadas do ser e da poesia

são belas dadas doadas
como transplante
elegantemente juntas
poesias e mãos
harmonia e proteção
mãos mãos e mãos

mãos de um pai redescoberto
mãos de lembrança de amigo
mãos de saber ser irmãos

mãos, nunca em vão...
mãos minhas sobre as tuas
nossas mãos dadas a correr as ruas

Dante Pincelli e Paulo Acácio Ramos
08.04.14

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Nu Desde Nós


quero ver-te sempre nu 
e feliz e sentir-me feliz 
porque estás nu 
e por que posso 
escorrer meus olhos 
sobre ti e a tua nudez
 deleitar-me 
na descoberta 
lenta de cada dobra 
e extremidade
beber com as retinas 
a tua humidade...

a tua humanidade,
tua nudez
é tão humana
quanto um rio
reafogando
um corpo solto
morto na corredeira
posto na geladeira
nu...

quero ver-te sempre nu 
e feliz e sentir-me nu 
porque estás feliz.

nu, atrás da porta
nu, num veleiro mediterrâneo
nu, comendo pão
num café parisiense
nu, porque nu sou inteiro eu.
nu e porque não
nu e porque nunca nu
nu e por não estar vestido
nu por nunca ter perdido a luz
nu e porque não dizer
vestido da própria nudez.

nunca perto
nunca longe
mas sempre nu
como a essência
dos pensamentos
a indecência
dos inocentes
pornográfica e
deliciosamente
nu.

despido de mim
faço como tu e dispo-me
de ti também
como se deve despir aquele
que ama
aquele que quer
aquele que deseja
faço como tu
e dispo-me da minha 
e da tua nudez.

despido de estupidez
assim se faz o 
intenso e imenso nu.

Paulo Acácio Ramos e Dante Pincelli
07.04.14