quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Deitando em Mim



Prevejo-te a adivinhar-me
A fazer-me esquecer-te
Desvelo-me em segredos
Revelo meus azedos.
Atiro-me em ti
Azul meteórico.

Não guardo segredo
Sou o arvoredo
Que dormiu mais cedo
Pra não curvar-se
Ante a ventania.
Retiro-me em ti
Azul metafórico.

Sou jabuti
Antônio, eufórico.
O tempo é simbólico.

Deitas sobre mim, essa cara
De embolia pulmonar
E doença terminal,
Como se fosses uma semente
Que não brota.
Pois que caiu sobre a pedra bruta.
Deitas sobre mim esse olhar
De dinossauro faminto.

Deita…
Deita sobre mim
Algo que seja teu
Tão-somente teu.

Deita sobre mim e esquece
Ou finge que esqueceste
Mas, ainda melhor,
Esquece tudo o que fingiste.
Eu, sob teu deitamento
Finjo que gosto

E nesse gostar pretendido
Ser um ser que devia ser
Ou que querias ter…
Mas não, apenas não.
Não há qualquer possibilidade.
Não há mais quase nada.
Que se possa pretender
Que estivesse a contento
E ao sabor do vento…

Nenhum possível movimento.

Nem um possível envolvimento.

Paulo Acácio Ramos + Dante Saraiva Pincelli
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sábado, 26 de novembro de 2016

(A)De(u)struído




Mumificaram-me
Antes que a noite
Se deitasse
Sobre meus rios
De arenosas e venais
Correntezas inúteis...

Logo EU, tão Deus,
Tão todo, tão mudo
Frente a tudo
Areia de palavras
Imutável senhor
De tantos nadas...

Me calei frio,
É verdade,
Ante às maldades do mundo
Mas antes que pudesse
Ficar mudo
Calaram-me com mordaça de fogo

Fizeram-me estranho
De meus mandamentos
Mandaram-me longe
De seus pensamentos
Colheram-me bólide
Sem ter movimento

Por fim
Sou só
Um imóvel
Um excremento
Ataram-me os trapos
Do próprio esquecimento.

Dante Saraiva Pincelli + Paulo Acácio Ramos

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terça-feira, 22 de novembro de 2016

Que Vida (?)




Vida de segunda
vida de segunda à sexta
vida sem sentido
de não sentir excessos.

Vida em processo
Aventura do medo
Não é segredo:
As artimanhas
Superam as surpresas
Da manhã...

Vida (de segunda)
Tola, vã.

Vida em seguida
sem saída que se veja
sem lugar onde se esteja
bem, ou melhor, muito bem.

vida vaga em primeira
ou em segunda
não arranca nem desvia
vida pouco sã.

Vida como é:
Acelerada em marcha a ré.

Vida que atropela
quem vai de carro e quem vai a pé.

No fim, a morte é certa!

Vida de segunda
vida fajuta que aperta
vida que falha a luta

vida filha da puta.


Paulo Acácio Ramos e Dante Saraiva Pincelli
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