quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

“Acorda Alice...”







(Por Paulo Acacio Ramos )
Acorda Alice...sai dessa lama!

Desperta do coma em que te meteste,

para de acreditar

que o mundo gira à tua volta,

ou melhor, à volta da tua alienação

e do teu sonho de consumo...


Bate esses sapatinhos mágicos

e vai para o Texas

ou Pra Puta que te Pariu...

mas vê se vais para algum lugar...

Estará o teu cérebro tão carcomido

que necessitas de mais de 30 segundos

pra me responder a uma simples pergunta?


Sei lá...

Pinta os lábios de Encarnado,

compra um chicote...

faz carreira como meretriz,

actriz ou como mosca que cai na sopa.


Acorda Alice...sai dessa cama,

minha Bela Aborrecida.

Deixa que o Lobo te coma

ou que um Príncipe desencantado...


Sei lá...dá um jeito na cozinha,

varre o chão, lava uma roupita à mão

ou, melhor ainda, passa um corredor a pano.


Acorda Alice, a corda,

quando estica demais, acaba por arrebentar.

Enforca-te Alice,

pendura esse corpinho numa árvore qualquer...

Come uma maçã, vai fiar uma lã.


Senta-te e espera

por uma Madrinha que te Foda

ou faz tu Gorda!!!


Acorda Alice, Concorda Alice, Discorda Alice,

põe essa gelatina que tens

dentro do Cráneo pra funcionar...

100 anos de sono é muito, assim enferrujas,

assim encarquilhas

e não podes dar umas fodas

sem falar no tempo que vais

passar com as mesmas cuecas...


Compra um Consolo, borda uns paninhos

mas nunca te esqueças de usar preservativos.

Escreve um diário, sai com as amigas

e faz umas intrigas.

Vai votar, faz umas doações

para instituições de ajuda aos desamparados

e entope essas veias de colesterol.


Acorda Alice, sai desse caixão de vidro,

manda os anões pró caralho

e desfaz essas tranças do cabelo...


Acorda Alice, Acorda e vai dormir...
Trofa- PT

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

"o avesso do real"




acho que mereço o mundo ao avesso do fim pro começo, sem lenço, sem endereço... pelo conformismo, pelo machismo, pelo canibalismo que vejo pelas esquinas e não faço nada, pela madrugada inescrupulosa, pela estrada tortuosa, pela menção honrosa que recebi pelo meu belo trabalho... tô cansado pra caralho pra fazer alguma coisa: desculpa esfarrapada pela imobilidade, pela falta de sensibilidade, pelo revés da verdade que cortei em tiras e transformei em mentiras, só pra dormir em paz... pra você, tanto faz quem seja o dono do mundo, só não tolera o vagabundo imundo que te interpela na rua? te interessa mais a gata nua na capa da revista? eu sou artista e não dentista, então não me venha me mostrar os dentes com essa faca na mão em meio à escuridão, não serei a tua lerda presa, só dou mole para a minha empresa, a qual defendo até a morte, assim como o brasil defende os fortes ( os países do norte, estes sim, têm fibra e sorte )... mas lá no fundo, não acho legal a economia mundial com seu arrebatamento bestial e sua dose fatal de ampliação de mercado, isto sim, é crime organizado! e dando uma de coitado fico no meu canto, imobilizado, impotente, acabrunhado, indecentemente desgraçado... ladrão de banco? sequestrador? são piada, ser político é que é a parada: desvia um dinheiro, compra um veleiro, um carro estrangeiro. cadeia? não, ele compra o ministro e o carcereiro, aos poucos, vende o país inteiro,,, tudo rui, a vida vira escombros e eu aqui, dando milhos aos pombos... quem mata um é criminoso, condenado, inescrupuloso,,, quem mata milhões é condecorado, heróico, aclamado... “os números consagram”... as luzes não se apagam, então, sigo escrevendo... o que estou dizendo é que no mundo ao avesso não conheço um figurão que tenha sido preso: a justiça tem seu preço e eu, pareço um palhaço, aqui, só falando ao invés de estar lutando por um belo futuro, mas juro que não tenho nada com isso, no máximo, sou conivente, aceitando calmamente a realidade avessa estabelecida, ou será que “os nossos bosques têm mais vida”? ou nossas vidas foram vendidas? de qualquer modo, sigo escrevendo, pois só assim, vou me entorpecendo e me enganando que estou vivendo...




1999

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

"sou meu pai"






madrugada lenta,
luz difusa,
espelho rachado.
em cada pedaço
do tempo em estilhaço
susto posto no rosto:
sou meu pai!

em rugas cínicas
saudade que não há,
no claro dos olhos
conselhos não dados,
no branco longo da barba
medos não curados,
sob o calvo da cabeça
poesias que não dediquei...

só entendi
sóbrio e solene
em minhas falhas
e minhas filhas
que ora vagueiam
no eito imperfeito do mundo,
levando junto
meu coração
intenso e farto
que descompassa confuso
(nelas)
fora de mim.




2011

Poesia enviada e postada hoje no concurso do blog Autores s/a, não sei ainda o resultado, mas a escrita deste deste texto me fez esparramar meus fantasmas todos em uma mesa, embaralhá-los e soprá-los pra longe como cartas na ventania.
Publicado e 12 de agosto de 2011

domingo, 20 de janeiro de 2013

"quintal"





no quintal da minha casa

quando, às vezes, me distraio

pardais dividem os pedaços de pão

colocados ao acaso

sempre no mesmo lugar

no quintal da minha casa...



no quintal da minha casa

quase todas as coisas tem asas

borboletas sobre margaridas e flores do mato

gafanhotos que devoram bertalhas

e toda a imaginação que voa à solta, sem pressa

no quintal da minha casa...



no quintal da minha casa

o peito arde em brasa

quando penso em fazer nada

ouvindo uma música silenciosa

tocando insistentemente

entre a mangueira e o banco da varanda...



no quintal da minha casa

me entorpeço com o cheiro da erva cidreira

olho o verde das bananeiras

às vezes, repico o sino

só pra quebrar a maravilhosa monotonia...



contemplo parado meu jardim

de trevo de quatro folhas...


esmiúço os mais longínquos

cantos do pensamento

e tento organizar o quebra cabeças

da minha memória

remonto todas as fases emocionantes

da minha história...



me aborreço e me alegro

no caminho de pedras

que montei enquanto chovia

e eu cantava

no quase perfeito

lado direito

de quem entra

do quintal da minha casa...









1990 / 


Quando eu morava em São Bernardo / Belford Roxo, um lugar feio, uma casa pequena, mas com um quintal maravilhoso e uma gente ( Izaura e Lis) simplesmente perfeita.

















terça-feira, 15 de janeiro de 2013

"sambinha lento"






(Dante Pincelli e Maria Clara Coelho)


...

bate outra vez
o meu coração nesse sambinha lento
minha voz se espalha com o vento
desse moinho do mundo apressado


e as cordas de aço do meu instrumento
que os dedos meus acariciam
descem as escadas e anunciam:
CARTOLA ESTÁ NOS BRAÇOS DO SOBRADO!!!



ensaboa, mulata
a minha fantasia original
eu vou sair de verde e rosa
vou gingando todo prosa
porque hoje é carnaval



e o sobrado 70
saúda o povo e pede passagem
trazemos pandeiro, cavaco e viola
se o Cartola é do Catete
hoje o Catete é do Cartola...



lá lá lá lá lá laiá laiá laiá laiá la´lá...



"Música incidental: "Ensaboa" do Cartola com paródia de Flavia Soares, Maria Clara Coelho E Dante Pincelli.


Na foto: Minha filha caçula, Taisa Machado e, ao fundo, Mario Travassos com sua sanfona.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

“só pensamento”








(de Zecafran)







o gênio está cansado


não sai mais da garrafa


está no face ou vendo novela


quebrei a garrafa


chutei a janela


explodi a casa


atropelei a ignorância


cantei um samba enquanto tudo pegava fogo


catei uns trecos mergulhei na fumaça


saí na favela, lá sim é aquarela...


2013




quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

"musical"








navegando numa pauta musical

te achei mergulhada numa pausa pontuada

de uma semibreve em fá sustenido

a dissonância se fez a namorada

da canção que invadiu o meu ouvido...





2012