acho
que mereço o mundo ao avesso do fim pro começo, sem lenço, sem
endereço... pelo conformismo, pelo machismo, pelo canibalismo que vejo
pelas esquinas e não faço nada, pela madrugada inescrupulosa, pela
estrada tortuosa, pela menção honrosa que recebi pelo meu belo
trabalho... tô cansado pra caralho pra fazer alguma coisa: desculpa
esfarrapada pela imobilidade, pela falta de sensibilidade, pelo revés da
verdade que cortei em tiras e transformei em mentiras, só pra dormir em
paz... pra você, tanto faz quem seja o dono do mundo, só não tolera o
vagabundo imundo que te interpela na rua? te interessa mais a gata nua
na capa da revista? eu sou artista e não dentista, então não me venha me
mostrar os dentes com essa faca na mão em meio à escuridão, não serei a
tua lerda presa, só dou mole para a minha empresa, a qual defendo até a
morte, assim como o brasil defende os fortes ( os países do norte,
estes sim, têm fibra e sorte )... mas lá no fundo, não acho legal a
economia mundial com seu arrebatamento bestial e sua dose fatal de
ampliação de mercado, isto sim, é crime organizado! e dando uma de
coitado fico no meu canto, imobilizado, impotente, acabrunhado,
indecentemente desgraçado... ladrão de banco? sequestrador? são piada,
ser político é que é a parada: desvia um dinheiro, compra um veleiro, um
carro estrangeiro. cadeia? não, ele compra o ministro e o carcereiro,
aos poucos, vende o país inteiro,,, tudo rui, a vida vira escombros e eu
aqui, dando milhos aos pombos... quem mata um é criminoso, condenado,
inescrupuloso,,, quem mata milhões é condecorado, heróico, aclamado...
“os números consagram”... as luzes não se apagam, então, sigo
escrevendo... o que estou dizendo é que no mundo ao avesso não conheço
um figurão que tenha sido preso: a justiça tem seu preço e eu, pareço um
palhaço, aqui, só falando ao invés de estar lutando por um belo futuro,
mas juro que não tenho nada com isso, no máximo, sou conivente,
aceitando calmamente a realidade avessa estabelecida, ou será que “os
nossos bosques têm mais vida”? ou nossas vidas foram vendidas? de
qualquer modo, sigo escrevendo, pois só assim, vou me entorpecendo e me
enganando que estou vivendo...
1999
Muito bom.
ResponderExcluirMuito bom mesmo!!!
ResponderExcluirObrigado Filipe.
ResponderExcluirGenial!
ResponderExcluirQueria , um dia escrever como vc, Cinthia, sem excessos , sem lixo, apenas o necessário pra ficar bonito. Às vezes, penso que dou voltas demais.
ResponderExcluirÓtimo texto. Poesia esculhambando a nossa leniência e comodidade com o caos que vivemos. Obrigada, Cintha, por compartilhar.
ResponderExcluirParabén Dante.Adorei!
Cecilia, continue conosco, temos poetas (nos festivais/ vem outro por aí) como a Cinthia e outros craques.
ResponderExcluirobrigado por seu comentário.
Quando naõ gostar diga tbm, eu preciso ouvir de tudo.
Valeu!
Quando não gostar, direi. Mas por este texto, acho difícil você produzir alguma coisa que eu não goste. Abraços!
ExcluirDante, amigo Velho
ResponderExcluirum dia, Sábio!!!
é sabido
que o gorjeio da sabiá
aclamará suas belas poesias...
Um gd abç.
Jorge Luiz
Você não dá voltas demais! Você diz a vida com mais recheio, com mais carinho, com mais Izaura, com mais amor. A minha vou dizendo do jeito que aprendi. Nada é lixo. Lixo é não dizer nada e deixar o mundo vazio da gente. Beijos
ResponderExcluirJorge, meu querido, que os sabiás saibam assobiar entre nossos poemas cheios de palmeiras palavróricas e rimas quase perfeitas.
ResponderExcluirCinthia, vc é um amor, obrigado pelas palavras carinhosas. Quando eu disse lixo, quis dizer lixo literário, aquilo que se eu não escrevesse, ninguém daria falta.