sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

"o avesso do real"




acho que mereço o mundo ao avesso do fim pro começo, sem lenço, sem endereço... pelo conformismo, pelo machismo, pelo canibalismo que vejo pelas esquinas e não faço nada, pela madrugada inescrupulosa, pela estrada tortuosa, pela menção honrosa que recebi pelo meu belo trabalho... tô cansado pra caralho pra fazer alguma coisa: desculpa esfarrapada pela imobilidade, pela falta de sensibilidade, pelo revés da verdade que cortei em tiras e transformei em mentiras, só pra dormir em paz... pra você, tanto faz quem seja o dono do mundo, só não tolera o vagabundo imundo que te interpela na rua? te interessa mais a gata nua na capa da revista? eu sou artista e não dentista, então não me venha me mostrar os dentes com essa faca na mão em meio à escuridão, não serei a tua lerda presa, só dou mole para a minha empresa, a qual defendo até a morte, assim como o brasil defende os fortes ( os países do norte, estes sim, têm fibra e sorte )... mas lá no fundo, não acho legal a economia mundial com seu arrebatamento bestial e sua dose fatal de ampliação de mercado, isto sim, é crime organizado! e dando uma de coitado fico no meu canto, imobilizado, impotente, acabrunhado, indecentemente desgraçado... ladrão de banco? sequestrador? são piada, ser político é que é a parada: desvia um dinheiro, compra um veleiro, um carro estrangeiro. cadeia? não, ele compra o ministro e o carcereiro, aos poucos, vende o país inteiro,,, tudo rui, a vida vira escombros e eu aqui, dando milhos aos pombos... quem mata um é criminoso, condenado, inescrupuloso,,, quem mata milhões é condecorado, heróico, aclamado... “os números consagram”... as luzes não se apagam, então, sigo escrevendo... o que estou dizendo é que no mundo ao avesso não conheço um figurão que tenha sido preso: a justiça tem seu preço e eu, pareço um palhaço, aqui, só falando ao invés de estar lutando por um belo futuro, mas juro que não tenho nada com isso, no máximo, sou conivente, aceitando calmamente a realidade avessa estabelecida, ou será que “os nossos bosques têm mais vida”? ou nossas vidas foram vendidas? de qualquer modo, sigo escrevendo, pois só assim, vou me entorpecendo e me enganando que estou vivendo...




1999

11 comentários:

  1. Queria , um dia escrever como vc, Cinthia, sem excessos , sem lixo, apenas o necessário pra ficar bonito. Às vezes, penso que dou voltas demais.

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  2. Ótimo texto. Poesia esculhambando a nossa leniência e comodidade com o caos que vivemos. Obrigada, Cintha, por compartilhar.
    Parabén Dante.Adorei!

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  3. Cecilia, continue conosco, temos poetas (nos festivais/ vem outro por aí) como a Cinthia e outros craques.
    obrigado por seu comentário.
    Quando naõ gostar diga tbm, eu preciso ouvir de tudo.
    Valeu!

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    1. Quando não gostar, direi. Mas por este texto, acho difícil você produzir alguma coisa que eu não goste. Abraços!

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  4. Dante, amigo Velho
    um dia, Sábio!!!
    é sabido
    que o gorjeio da sabiá
    aclamará suas belas poesias...

    Um gd abç.
    Jorge Luiz



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  5. Você não dá voltas demais! Você diz a vida com mais recheio, com mais carinho, com mais Izaura, com mais amor. A minha vou dizendo do jeito que aprendi. Nada é lixo. Lixo é não dizer nada e deixar o mundo vazio da gente. Beijos

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  6. Jorge, meu querido, que os sabiás saibam assobiar entre nossos poemas cheios de palmeiras palavróricas e rimas quase perfeitas.
    Cinthia, vc é um amor, obrigado pelas palavras carinhosas. Quando eu disse lixo, quis dizer lixo literário, aquilo que se eu não escrevesse, ninguém daria falta.

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