quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

"quintal."



no quintal da minha casa
quando, às vezes, me distraio
pardais dividem os pedaços de pão
colocados ao acaso
sempre no mesmo lugar
no quintal da minha casa...

no quintal da minha casa
quase todas as coisas tem asas
borboletas sobre margaridas e flores do mato
gafanhotos que devoram bertalhas
e toda a imaginação que voa à solta, sem pressa
no quintal da minha casa...

no quintal da minha casa
o peito arde em brasa
quando penso em fazer nada
ouvindo uma música silenciosa
tocando insistentemente
entre a mangueira e o banco da varanda...

no quintal da minha casa
me entorpeço com o cheiro da erva cidreira
olho o verde das bananeiras
às vezes, repico o sino
só pra quebrar a maravilhosa monotonia...

contemplo parado meu jardim
de trevo de quatro folhas...
esmiuço os mais longínquos
cantos do pensamento
e tento organizar o quebra cabeças
da minha memória
remonto todas as fases emocionantes
da minha história...

me aborreço e me alegro
no caminho de pedras
que montei enquanto chovia
e eu cantava
no quase perfeito
lado direito
de quem entra
do quintal da minha casa...



1990 / quando eu morava em São Bernardo / Belford Roxo, um lugar feio, uma casa pequena, mas com um quintal maravilhoso e uma gente ( Izaura e Lis) simplesmente perfeita.

10 comentários:

  1. Parece com a casa de seu Joãozinho, do outro lado do rio, que uma vez Dante alugou. Só que em Galdinópolis. Essa poesia caberia lá também. Mas nada igual ao lugar que é seu. Inclusive com mais liberdade para se ter asas. Mas lá também era viajante, pois ninguém conhecia ninguem com acertividade. Um bando de artistas doidos, inteligentes e com presenças de espírito. E por essas razões nos identificávamos.

    ResponderExcluir
  2. Que lindo! Ainda mais bonito é a maneira como a alma do poeta interpreta a beleza ao seu redor.

    ResponderExcluir
  3. Fico lisongeado com tantos elogios, isso me mostra que realmente vale a pena continuar escrevendo e publicando...
    Com seus comentários, meu gás aumenta...
    Obrigado!

    ResponderExcluir
  4. É tão lindo e singelo que me deu vontade de estar no quintal da sua casa.
    Muito lindo!!!!!!!!!!

    ResponderExcluir
  5. Livia pode vir a hora que quiser, o quintal daqui dá de 10 naquele do texto.

    ResponderExcluir
  6. Que viagem pela natureza e pela memória! Muito legal!

    ResponderExcluir
  7. Não canso de ler esse poema, é de uma beleza rara. Adorooooooooooooooo!!!!!!!!!!!!!!!
    Bjs

    ResponderExcluir
  8. Você abriu com o poema que eu mais gosto... Ele tem tanto amor, tanta paz, tanta saudade... Acho que essa casa se chamava paraíso...

    ResponderExcluir