Há alguns anos trabalhei com uma psicóloga chamada Denise que tem um filho de nome Pedro.
Pedro é paralisado cerebral. Num carnaval, viajamos para o Vale das Flores, Minas Gerais, casa de Denise. Numa bela manhã, Denise saiu e deixou o Pedro comigo ou eu com o Pedro: Eu, sentado à mesa da cozinha e ele ao meu lado, em seu carrinho de bebê. Fiquei um pouco assustado com aquela situação, mas com o tempo, relaxei, observei e, enfim, escrevi o poema que se segue, em tempo real e, que agora divido com vocês leitores deste blog. Detalhe: o Pedro tinha 12 anos na época.
"pedrante"
eu penso, enquanto o pedro, olha e ri...
eu escrevo, enquanto o pedro, só olha...
eu elucubro, enquanto o pedro, olha e pensa...
eu penso, enquanto o pedro, não sei se pensa...
eu desejo, enquanto o pedro, precisa...
eu distraio, enquanto o pedro, concentra...
eu concentro, enquanto o pedro, olha e concentra...
eu falo, enquanto o pedro, balança e ri...
eu procuro, enquanto o pedro, acha...
eu encontro, enquanto o pedro, procura...
eu sofro, enquanto o pedro, dispersa...
eu rio, enquanto o pedro, ri...
eu pedro, enquanto o pedro, pedro...
eu dante, enquanto o pedro, faz tempo que não ri...
eu respiro, enquanto o pedro, ronca...
eu fumo, enquanto o pedro, respira...
eu choro, enquanto o pedro, se sensibiliza...
eu penso, enquanto o pedro, dorme...
eu escrevo, enquanto o pedro, dorme...
eu elucubro, enquanto o pedro, dorme...
eu repenso, enquanto o pedro, dorme...
eu vivo, enquanto o pedro dorme...
eu leio, enquanto o pedro, vive...
1991