"Dante Poeta Irmão!" e "se me dá."

"Dante Poeta Irmão!"

 

(Paulo Acacio Ramos)

Se te desse um pedaço de poema
um assim meio sem linhas
sem rimas e sem direcção
fazias-lhe carinho e davas-lhe atenção?

Punhas-lhe um tino
e umas ideias a nível de pontuação
segredos mistérios desejos
e peças desengonçadas
a precisar de manutenção?

Multiplicavas-lhe os pães e os peixes
davas-lhe o vinho da salvação
com açúcar e com canela
e a pimenta de tua mão?

Seguias com ele pelo caminho
que leva ao encontro connosco
num abraço tão apertado
como duas rochas majestosas
que terremoto nenhum deita ao chão?

Se te desse um punhado de poema
um assim meio sem chuva
relâmpago ou trovão...
amassava-o feito barro
como um herói da criação?

 

 

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"se me dá" 

 

(Dante Pincelli)

 

se me dá,
cauteloso recebo
apanho, ganho impulso
num soluço resignado
nado entre tubas e harpias lunares
mudo os ares
vaquejo sem traquejo
numa vaga de lumes
imunes às rimas improvisadas
ás cartas mal embaralhadas...

se me dá,
acato com gosto
com gozo de versos
na língua, entre os dedos, no espaço
nada do que faço
chega em torno de ti
mestre das poesias duras
rimas cruas
que arremessas
que insinuas...

se me dá,
as minhas também são suas...