quando achei que tudo era sobra
a sombra do novo grito me assaltou
pirata dos dias perdidos sem mar
procuro nos ventos a terra sem fim
o mesmo vento, redondo e gelado
abrandava o que saltava em mim
fazendo cócegas na alma incerta
que grita, se agita e esperneia
pirata sem barco, barco sem cor
cor sem mar, mar sem sereia
praia sem areia, recifes sem dureza
e a pureza de cavalos-marinhos cor de fogo
e tudo culmina nesse lasso jogo
de se ser sobra na decadência insana da obra
palavra sem viço, som sem sustenido
apenas um resto mantendo o todo roto
um roto, um espirro, um arroto
diante do espelho: lágrima e silêncio
até que um grito vomita o basta
e liberta pensamento, palavra, porrada
arrebenta na cara por tudo e por nada
granada sem razão e dinamite sem explosão
ogiva nuclear sem direção, comando alterado
chuva de versos, luz de afetos
a cabeça que arrebenta a cabeça que arrebenta
estouro explosão estouro e um silêncio mortal no fim
ah salto!!... de grito em grito, de sobra a sobra
de ferida a lambida, estou eu à prova
garganta rasgada e limpa por corte certo à navalha
o grito que gritava tão aflito não mais se faz grito
assoprei as velas do festejo com orgulho das marcas
hoje amo a face verdadeira, eu queimei as máscaras
atirei vaidades à fogueira saudades à fogueira
deixei brotar verdades na figueira do inferno
resplandecente eu vi, nascer o agora em mim
tão eterno quanto puro, tão carente quanto absurdo
corpo fechado e imune a mandingas doenças amor
corpo flechado Sebastião Carnaval de Janeiro a Janeiro
a língua transa palavras move montanhas revira latas
...noites são dias para os sonhos, sou de lixo a tesouro
som de lixa e de tesoura nas garras da moite amontoada
o ribombar dos trovões e o reluzir dos camaleões
corpo helicóptero com pás de veludo a trocar o disco
a tocar modinhas do tempo sem ritmo do Entrudo...
Criação do Coletivo Uni-Versos Poéticos
BR - PT 27.02.14