quinta-feira, 25 de setembro de 2014

"Cosmogonia de Deuses Desnudos" ou "Eternamente Um"



Estamos no empate
no desate de qualquer poema
fora de cena 
nos enganamos

Em tempos de espera
em eras priscas
taliscas de espaço curto 
em abortos de versos
em universos paralelos

E tudo isso é tão pouco
tão medieval como subir uma escada
como andar a disputar 
castelos com espadas.

como atirar pedras em muralhas 
como catar migalhas do chão

ou andar por aí bêbados 
de querer ver embriagados 
de desejar estar com vontade 
de ficar quietos e não fazer mais nada
se não beijar. 
é disso que as bocas não falam 
é isso que bocas que se querem não dizem
somos como os dois lábios da mesma boca
a trocar de salivas a trocar de lugar
às vezes inferior a tremer
outras superior a mamar
mas sempre, sempre 
como um todo
entregando-se a quem queira querer

como se por entrega 
quisesses dizer desejo
como se por desejo 
fosses dizer segredo
como se por segredo 
os dois fossem eternamente um.

PAR Dante
23.09.2014

terça-feira, 23 de setembro de 2014

"boca"


Foto: Izaura Carolina




minha boca fala
cala
consente
arregala docemente
profere calúnias
maldizeres carnívoros
injúrias atropelantes...

minha boca canta
grita
palpita
acalma fúrias sem fim
fica suja de feijão
e palavrão...

minha boca beija
deseja
suga
chupa
lambe o limbo farto
antes e/ou depois
do parto
na sala
na rua
no quarto...

minha boca, na verdade,
é de entrega...

Dante Pincelli.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

"fulores"


Foto: Izaura Carolina


minha língua
ácida e desnecessária
no quotidiano do universo,
lambe versos
nos pistilos
e no centro da corola:
das Orquídeas
Rosas
Margaridas
Hortência
e Auroras...

Dante Pincelli.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O Bicho




Ilustração de Miqueia Santos


Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

 (Manuel Bandeira)

Ilustração  de José Ricardo


Lancei um desafio aos alunos da escola Carolina Curvello Benjamim: Criarem uma ilustração para o poema "O Bicho" de Manuel Bandeira.
Agradeço a todos os participantes, meus queridos alunos e, parabenizo os vencedores: José Ricardo e Miqueia Santos.
Em breve lançarei outros desafios.
Valeu Galera!!!


Dante Pincelli O Velho


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Inundação




Que tua boca
nunca se canse
dos meus olhos...
que teus olhos
que me seguem
nunca ceguem
os beijos meus...
que o tempo em
teus dedos corra
livre sobre a pele
precipício e pálpebra...
que o princípio
seja a calma
que inunda os corpos
olho,nariz e nuca...
que seja sangue
que verte azul
que seja porra
que enche cavernas
minha língua
minhas bolas
tuas pernas.


PARDante

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Rimaganeira



porque se faz poesia
se todos são cegos?
porque se diz
se são todos surdos?
por quê poesia?
se a lama não seca
a dor não estanca
e o sangue não rima...

Fazer poesia pra que
cegos vejam melodias...
dizer para que
surdos ouçam estrelas..
A alma permanece árida
a dor ainda espanca
O sangue rima
rio abaixo...

Mas continuo andando,
respirando, cagando
cuspindo,pensando
e fazendo poesia...

A poesia é menos eficaz
que a caganeira
Sempre...

PARDante

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Frottage



Este é o trunfo
o triunfo
da poética deslavada
Sim
o som que sobe
e desce escadas
desfiladeiros escondidos
em mim, em ti, em nós
poesia esfregada
na cara da audiência
desarmada
escorre pelas escadas
melhor dizendo
como se tivessem sido
passadas à Vassoura
depois de uma tempestade
e de milhões de pés
empapados de lama.
ensopados, guisados
refogados, fritos
no caldeirão dos malditos
é de lama que eu te falo
é da lama que eu tiro as palavras
que escrevinho
tonto e bêbado
é da lama que sai o meu corpo 
sacrossanto e estigmatizado
é de lama que se faz a linha do meu viver
lama seca que faz barro
barro seco que faz pote
pote quebrado que faz cacos
e meu corpo parte em busca 
de outras argilas e de outros monstros
meu corpo não dorme
nem cochila
sob marquise nem ponte
só de lama
me inflama
me coça
me rasga
a escrita a sair
enlameada
enquanto outra é porvir.

PARDante

domingo, 7 de setembro de 2014

"no respingo"








teu sigilo
sobre meus ombros,
meu desejo
sob escombros...


na temperatura
do ambiente
desordenado, úmido,
paira todo o sempre...

tudo entre nós
cabe naquele respingo
de tinta acrílica
que ficou esquecido
na cerâmica da cozinha...

vida vivida
nua, sozinha...


(Dante Pincelli)

sábado, 6 de setembro de 2014

"blue em laranja"

Na foto: Rai Blue por ela .

(Dante Pincelli)


quero muito
quero nada

de tudo um pouco
desterro da estrada...

por hora
me basta
a flora
na transparência alaranjada....

 laranjas em sucos
em sulcos
sorvida lenta

na língua portuguesa
de origem italiana.

colher de colher
néctares em jorro
da fauna em chamas.



quinta-feira, 4 de setembro de 2014

"mais que o meu"








dia liso
impreciso
céu de camafeu

nenhuma flauta
nenhum guizo
a música esqueceu

sabe aquela hora
lá fora o desaviso
aqui tudo escureceu?

aquele momento
em que teu sorriso
importa mais que o meu

(Dante Pincelli)




terça-feira, 2 de setembro de 2014