segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Frottage



Este é o trunfo
o triunfo
da poética deslavada
Sim
o som que sobe
e desce escadas
desfiladeiros escondidos
em mim, em ti, em nós
poesia esfregada
na cara da audiência
desarmada
escorre pelas escadas
melhor dizendo
como se tivessem sido
passadas à Vassoura
depois de uma tempestade
e de milhões de pés
empapados de lama.
ensopados, guisados
refogados, fritos
no caldeirão dos malditos
é de lama que eu te falo
é da lama que eu tiro as palavras
que escrevinho
tonto e bêbado
é da lama que sai o meu corpo 
sacrossanto e estigmatizado
é de lama que se faz a linha do meu viver
lama seca que faz barro
barro seco que faz pote
pote quebrado que faz cacos
e meu corpo parte em busca 
de outras argilas e de outros monstros
meu corpo não dorme
nem cochila
sob marquise nem ponte
só de lama
me inflama
me coça
me rasga
a escrita a sair
enlameada
enquanto outra é porvir.

PARDante

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