Stella Monteiro
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"Janela Lateral"
(Izaura Carolina)
Macaé-Rio de Janeiro
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"consumir"
(Vinni Corrêa)
é como sumir
com o sumo
da sociedade
Rio de Janeiro-Rio de Janeiro
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"O sol"
(Zecafran)
O sol que vem de trás do mundo
Transeunte vagabundo
Vem a rosa despertar
Vem beber no jardim
A madrugada
Que a moça poesia
Da janela viu passar...
Niterói-Rio de Janeiro
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"Caju"
(Jorge Luiz)
Rio de Janeiro-Rio de Janeiro
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"Tangerina"
(Alhadef)
6h.
9h.
Juntas numa tangerina
Os pedaços
Da casca,
pouco a pouco
Se aglutinam
Num canto do quarto
Esparramados
pelo chão
Como a roupa que eu queria
Que fosse tirada
Len
ta
mente
Começando
pelo dia
E acabando em outra vida.
Dois lados da mesma moeda:
Você
tão romantismoclassicismoparnasianismo.
Eu sou moderna.
Você
é rebuscado;
Sou acabada.
Você é
Poesia;
Sou prosa.
Não entendo
teus enigmas;
Tu refuta minhas metáforas.
Sonho com o futuro,
Tu escreve odes ao passado.
Você é anacrônico,
Eu também sou
Macabra.
E é por isso que não existo
aqui, só existo
Quando descubro
Qual das tuas linhas
Há de tratar de mim;
Vocé é raiz,
Taverna,
Surrealismo que explana
Em mim;
Sou fruto,
Choupana
Sou partes
aos avessos,
Mas nao há
Outra metade.
Eu tenho varios gomos
Pra você saborear.
Fortaleza-Ceará
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"Vai aí, doutor?"
(Cinthia Kriemler)
vai uma graxa, doutor? pra me ajudar com a miséria desta vida de pilhéria?
só um trocado, senhor! se não puder dar em nota
umas moedas pequenas já enganam a fome, a dor
ah, e a cera sai tinindo! preta, marrom, incolor
vai uma bala, doutor? pra me salvar da cachaça do padrasto que me ataca?
só uma bala, senhor! se não quiser da mais cara
a pequena, mais barata, já impede a surra, a dor
ah, e ainda pode escolher! morango, menta, licor
vai uma transa, doutor? pra eu comprar o meu pão neste dia sem tostão?
só uma trepada, senhor! se não quiser da completa
diz a sua predileta,é questão de combinar
ah, e é tudo bem depressa! pra ontem, pra agora, pra já
vai aí, doutor, por favor! um dinheiro pelo amor
de Buda, Deus ou Alá
que se tu não me der uma grana
eu vou ter que te matar
Brasília-Distrito Federal
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"100 % Reciclável"
(Paulo Acácio Ramos)
Trofa-Portugal
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"O nariz da minha mãe sangra..."
(Carvalho Junior)
enquanto o político derrocado
posa de moralista na estação de rádio,
o nariz da minha mãe sangra.
enquanto jogam peteca a cidade e o caos
nas fendas da ladeira vermelha do sono,
o nariz da minha mãe sangra.
enquanto o trânsito segue áspero
e a delicadeza murcha
nas hortas e palavras (dos homens?),
o nariz da minha mãe sangra.
enquanto as filas não diminuem
no número de desrespeito
e o farmacêutico vende pílulas antiamor,
o nariz da minha mãe sangra.
como se falasse com Deus,
toda vez que me toma nos braços
e me embala com o curioso cântico
— tingadonga-donga-donga/
tingandanga-danga-danga —
o nariz da minha mãe
morre o sangue e vive o sonho.
Caxias-Maranhão
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"quando releio o que escrevo."
(Dante Pincelli)
escrevo, me invento, me reverto no inverso de cada verso que arremesso por extenso, penso, esclareço, meio tenso, meio leso, meio a esmo, exclamo, chamo, amo em cada fina linha que, de minha, passa a tua, nua e insinua o desate, o empate de cada fato, boato, de cada lógica, andrógena, alucinógena,,, me permito cada palavra no oco âmago de cada pensamento que invento e que alimento em cada rota sem sentido, em cada sopro no ouvido, agudo, ativo e então, só então, nasce o escrito, tornando-se real e dito o que andava tão somente escondido e aflito,,, eu escrevo e me reescrevo como escravo das letras que pingam lentas no peito frouxo ou na unha mínima do planeta,,, meus sentidos passam afazer sentido e lido com o que faço, mas se quiser, desfaço cada laço atado por meus escritos,,, escrevo enquanto cresço e leio o que mereço quando releio o que escrevo...
Macaé-Rio de Janeiro
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Obrigado a todos os participantes deste festival, bem como a todos os leitores.
Sem vocês nada disso faria sentido.