Abertura:
Era 1979, acho, Barish e eu, ramos o
grupo do Cão, fomos tocar num festival, durante os ensaios e passagens de som,
conhecemos Beto e Joe que eram Beto e Joe mesmo, na hora ficamos encantados uns
pelos outros e acabamos tocando todos juntos as 4 canções, duas de cada dupla.a
Ali nascia uma parceria maravilhosa e, sem desfazer dos outros dois, que eram talentosos demais, Beto e eu, formamos uma espécie de feijão com arroz, Pelé e Coutinho, queijo e goiabada, lápis e papel, voz e violão... A sintonia era total, principalmente no que escrevíamos (éramos e somos músicos completamente amadores).
Beto era e é o melhor poeta que já li, pois escrevia (forma e conteúdo) da maneira que eu gostaria de escrever.
Como ‘tristeza não tem fim, felicidade sim’, a vida nos empurrou pra caminhos diferentes e nos perdemos uns dos outros.
Era 2010, estava eu postando poesias no
facebook e procurando o velho parceiro, quando acabei encontrando. Em dezembro
daquele mesmo ano ele, Beto, veio aqui em casa com toda a família e me trouxe
de presente este blog, todo completo, só pra eu publicar o que quisesse.
Por quase 1 ano publiquei sozinho os meus escritos e alguns do Beto (só os que eu sabia de memória), pois o nosso livro de anotações tinha ficado com ele, em 1981 e, ele acabou por jogá-lo fora.
Em meados de 2011, inventei o I festival Beto Miranda de poesias, que só terminou em fevereiro de 2012 e, desde lá decidi dividir este espaço com todos os poetas do mundo.
De abril a junho aconteceu o I concurso LínguA'fiada de poesias, concurso este,
vencido pro Lohan Lage Pignone, seguido de Francisco Ferreira e Rodrigo Ribeiro
e agora, começa a 2ª edição deste que é, sem dúvida, o festival virtual de
poesias mais charmoso do uni-verso.
Os poetas que participam costumam me agradecer pela oportunidade, mas eu é que fico grato a todos por me darem um voto de confiança, embelezarem, e tornarem possível este sonho de ‘gritarmos’ numa só voz:
Viva a poesia!!!
E por fim, digo em meu nome e em nome
de todos os poetas participantes:
Obrigado
BETO MIRANDA!
@#@#@#
@#@#@
@#@#
@#
@
II Festival Beto Miranda de poesias.
Rodada 1
Tema: LínguA’fiada
&*&*&*&*&*
"Ponto
fora da paisagem"
(Henrique
Koifman)
(Foto
e legenda: Henrique Koifman)
Reflexo
meio sem nexo mas com rima ruim e paisagem lá fora do ônibus que sacudiu feito
coquetel em preparação na mão de um barman epilético diante de meu olhar cético
mas algo poético que desaguou neste palavrório em desvario incontido e
desprovido de pontuação(este aqui é uma exceção) =>.
Rio de
Janeiro-RJ.
&*&*&*&*&*
“Linguarudo”
(Paulo
Acacio Ramos)
Um dia
Portugal
há de ter um dia
em que se respeite
a língua
portuguesa
a história
portuguesa
a gente que mereça
ser respeitada
um dia
Portugal
há de se lembrar
que para se ter
uma história
há que se ter
uma memória
que respeite
essa história.
Trofa-
Portugal
&*&*&*&*&*&
“ lingu'afiada ou o conto dos dois cabra”
(Ricardo
Prins)
e conto um conto
desses dois cabra
só sai fazer
lingu'afiada
querela longa
desesperada
em tudo mesmo
lingu'afiada
te largo a mão
te sento a vara
vem cá pra ver
lingu'afiada
ah eu te mato
cabra safado
inda te mostro
lingu'afiada
até que um dia
não sobra nada
deles nem mesmo
lingu'afiada
Curitiba-
PR
&*&*&*&*&*
“línguA’fiada”
(Soneto)
já não
posso calar, cruzar os braços
nem
tolher o que pinta o meu poema
que me
venham mil feras nesta arena
neste
circo cansei de ser palhaço.
quero ser
domador do meu cansaço
não
preciso fingir ou fazer cena
pois não
sou canastrão neste cinema
já não
tenho mais medo do fracasso.
faço
verso em haicai e até soneto
retirei
do armário o esqueleto
então,
abro as folhas do meu livro
por isso,
permaneço sempre atento
evitando
surpresa ou desalento
escrever
me mantém muito mais vivo.
Macaé-RJ
&*&*&*&*&*
“Paga-se
o preço”
(cinthia
kriemler)
Deixo
minha orelha dengosa
deslizar
num passeio de arrepios
pelo
tobogã inquieto da tua língua
molhada
e a
pequena morte (petite?)
conjura
outras
de ainda
maior prazer
Esqueço o
arremate de talho fundo
com que
as tuas palavras-
navalhas
me cortarão amanhã
desprezando,
descartando meu corpo usado
como se
dentro dele não morasse
eu
Mas não
importa se o preço do agora é pago
em depois
que
amanhã é tão longe
e hoje é
tão certo
Quando
chegar a hora e a tua boca
vomitar o
réptil que te obriga a sê-lo
[bicho
peçonhento]
eu me
lembrarei das borboletas
que
lacrei na memória
—
sacrário do incorrupto
Uma delas
amarela
farei com
que fuja do teu verbo hemorrágico
para
emprenhar meu útero
e nascerei
de mim em clave de sol
desenho
do meu eco
Brasília-DF
&*&*&*&*&*
“sem
título”
(Marii
Brandão)
Uma folha
levada pela brisa
Direções
destinadas ao que não há
Uma folha
molhada pela chuva
Numa poça
faz seu mar
Faz-se de
barco
Vai
navegar...
Um grão
de areia numa praia
Uma
partícula solitária e vazia
Um grão
pequeno e invisível
no seu
chão mora, ilha fria
Descontente
entre tantos outros
Outros
grãos de mentes vazias.
Uma flor
que brota
Linda,
suave, discreta
Uma flor
que surge
Sua
beleza é direcionada como uma seta
Frágil,
elegante, direta
Uma rosa
imperfeita
Seus
espinhos são o que lhe resta.
Cruz das
Almas-BA
&*&*&*&*&*
“lingua
fiada”
(Jan
Neves)
debate...
e pronto,
pá e
lavra!
A res
posta de
chofre
rima
tirada
língua fiada
dantes e
depois
Rio de
Janeiro-RJ
&*&*&*&*&*
“Nelore”
(Felipe
Rey)
oh não me
ignore
eu não
sou gado nelore
eu sou
poeta nevrálgico
airado a
irado
contrariado
quando outro camarada
fala de
amor, nostálgico
oh não me
ignore
eu não
sou gado nelore
posso ser
pedaço de pano puído
desodorante
com prazo vencido
um
guarda-pó bem envelhecido
mas quero
só que o amigo decore
sem mente
mole e bole um alexandrino
oh não me
ignore
eu não
sou gado nelore
na
amarelidez do meu sorriso
eu
consigo rimar de improviso
navego
todos os dias que é pra ser preciso
por isso
não me amole
e não
embolore a poesia com todo seu juízo
Não
revelou local.
&*&*&*&*&*
“Farsa”
(Ana
Gouvin)
Em tua
boca
imprimo
farsante
nossas
línguas em núpcias
entrega
incessante
num balé
único
a
rodopiar.
Há uma
música molhada
de desejo
encharcada
em nossas
salivas
língua
afiada
doce e
ferina
atroz a
dilacerar.
E busca a
todo custo
os corpos
em cobiça
consumindo-se
aniquilando-se
um no
outro
tua
língua
em
constante agonia
aguçada
euforia
exaure-se
a se deliciar.
E vai
noite a dentro
enveredando
desvairada
perde-se
no céu da boca
eterna
madrugada
revelando-te
crua
tragando-te
nua
tua
carne, tuas curvas
teu gosto
a se embebedar.
E a
língua afiada
do açoite
ao cansaço
depois de
saciada
adormece
em tua boca
nessa
farsa louca
de tanto
te amar.
Rio de
Janeiro-RJ
&*&*&*&*&*
“Apreço”
(Charles
Soares)
À meia
luz,
amei a
Lúcia.
A cada
ilusão, a cada senão, a cada cifrão...
fugindo
às grades da razão
sorvia
seu corpo sabendo seu néctar,
cada
poro, cada entranha
naquela
estranha forma de amar...
Mão no
bolso: nem um puto.
Lúcia
puta, lambida, frustrada:
__Enfim,
a língua fiada!
Saquarema-RJ
&*&*&*&*&*
“É
terno”
(Anna Lisboa)
Éramos
eu, ela e ela
Bebendo
saliva benta
Em um
copo cor da pele
Éramos
eu, dela e dela
Deflorando
de joelhos
Tantas
quantas mais de nós
Éramos
ela, ela e ela
Três
línguas mudas
Rasgadas
por espasmos tagarelas
Até que a
sorte nos separe
Vinhedo-SP
&*&*&*&*&*
“A
sobrenatural língua do vento”
(Angelo
Colesel)
Impossível
explicar
o que a
alma pressente,
em
palavras. Mas
tudo está
claro
ao vento,
que ao
suave contato,
afaga a
pele e a sente...
Eu
pressinto e tudo guardo-
discretos
lamentos pungentes-
mascarados
num eu somente meu!
(O vento
não é amigo. )
Murmura
a todos
os cantos
o que
daqui
aspira:
com a
língua afiada delatora de foice talhante
lambe
minha face, sobrenatural -
penetra
adentro da casca tênue,
invade a
minha alma escondida; do cerne
desliza
pelos becos mais distantes,
cruza
cimos e desce vias fundas
latejando
os ardores sentidos e, soprando ao tempo,
sem
nenhum domínio, o que não lhe pertence...
Meu
íntimo lamento,
todos
veem
e ouvem,
espalhado
pelo vento...
Apenas eu
,
aqui
dentro,
ignoro e
finjo que
nada vejo,
continuo
nesta sina inglória de dissimulado:
pressentimento.
Imbituva-PR
&*&*&*&*&*
“NAVALHA
NA CARNE”
(Edweine
Loureiro)
Afiada,
enfadas
as Fardas,
corrompes
as Fadas,
e não te
apiadas…
Oh,
Língua,
és tão
forte
que não
há espada
ou praga
que te
corte.
Só a
Morte.
Saitama-Japão
&*&*&*&*&*
“Variação
linguística”
(Lohan
Lage Pignone)
Aqui eu
vendo a língua
disfiada
Do cabra
que
ousou
lamber
o xibiu
De minha
Afiada.
Trajano de
Moraes-RJ
&*&*&*&*&*
“DOM
QUIXOTE DOS TUBOS”
(Zacafran)
AS ONDAS
A PRANCHA
A PARA
FINA
O
CAVALEIRO COM SUA ARMADURA DE BORRACHA
DOM
QUIXOTE DOS TUBOS
O SOL SÃO
OS OLHOS DO DRAGÃO
E A BOCA
É O MUNDO....
Niterói-RJ
&*&*&*&*&*
“BOCA-CADEADO.”
(Geovani
Doratiotto)
Em boca
fechada
de pobre,
a mosca
[nobre] sente o eco
do grito
na lufada
de ar.
Atibaia-SP
&*&*&*&*&*
“teorema”
(Vinni
Corrêa)
mate a
mágica
mate a
métrica
mate a
mística
mate a
módica
só não
mate a música
Rio de
Janeiro-RJ
&*&*&*&*&*
“Lorota
Afiada”
(Carol
Vaz)
Paguei
minha língua grande
com a
perda de grandes amigos
Amigos?
Que
disparate!
Se fossem
não os teria perdido!
Paguei-a
vez outra também,
beirando
quase à míngua.
E num
inferno de ouro e cobalto,
cercado
pelo vazio,
Senti
falta dos falsos amigos...
Chorei o mal da partida.
Ah, vida
que cobra dos pobres!
Que tira
dos falantes para dar aos metidos!
Prometo a
mim mesmo,
feitor de
poemas,
caído de
um salto,
depois da
pancada:
- Não
fazer dívidas extremas
- Nunca
mais visitar Baalberith
- Não
tropeçar em cada ressalto
e
- Manter
a boca mui bem amarrada.
Belo
Horizonte-MG
&*&*&*&*&*
“LINGUA
SEM FREIO”
(Jorge
Luiz)
Tenho
medo,
Da língua
sem freio,
Receio,
breve esgotada
Enlaçada
na coragem criança
Avança
perante segredos.
Segredos,
Trincados
entre dentes
Sementes
insalivadas
Lançadas
ao vento
Sedento
de alvoroço.
Alvoroço,
Esboço
das vergonhas
Cegonhas
em rodamoinho
Caminho
do furacão
Embrião
da desarmonia.
Desarmonia,
Caligrafia
sem versos
Reversos
da língua afiada
Soada no
espaço
Calhamaço
diluído.
Rio de
Janeiro-RJ
&*&*&*&*&*
“Beijo”
(Anderson
Fortuna)
Língua
que tece mil fios
Novelos
de sonho na teia da imensidão
Como
navalha
Dilacera
a alma, o coração
Faca de
dois gumes
Entre a
vida e a morte
O céu e o
inferno, sismos e abismos
Singra
nos mares ocultos
Velados
no teu semblante
Serpente
que desliza no teu corpo
Face a
face
Pele na
pele
Corpo a
corpo
Pele n
pele
Língua na
Língua
Bailarinas
Evocam as
estratosferas mais sublimes
Língua
Afiada
Antena
etérea
Perpetra
o gosto do tempo
Rio de
Janeiro-RJ
&*&*&*&*&*
“Linha
desafinada”
(Andréa
Amaral)
A linha
deu com a língua nos dentes
Trio
imperfeito de sensações
Um ménage
à trois
na
verdade de dois.
Entredentes
desliza fina
Afia'lingua
sem saliva,
sem
corte,
sem
curva, sem glote.
Falta
glicose pra língua.
Falta
flúor pros dentes.
Falta
lixa pra linha.
E a glosa
que é bom
não saiu.
Nova
Friburgo-RJ
&*&*&*&*&*
“Quem
cochicha o rabo espicha”
(Izaura
Carolina)
(Foto e
photoshop: Izaura Carolina)
Macaé-RJ
&*&*&*&*&*
O Poeta Ricardo Prins
escolheu como tema para a
2ª rodada deste festival, que é:
Amor bandido
Os trabalhos devem ser enviados, preferencialmente, pelas
mensagens do Facebook pra:
Dante Pincelli O Velho
e, no caso de formatação diferente, arquivo fotográfico etc
envie para o e. mail:
dantearte@hotmail.com
Os trabalhos de vem ser enviados até sexta feira, dia 07 de setembro, às 12:00 h.
Orgulhosamente;
Dante Pincelli
Que seja um dia três de Setembro
ResponderExcluircheio de tudo que amas
repleto daqueles que chamas
amigos...
um dia para lembrar
sempre
um dia como todos os outros dias.
PAR - PT
Assim seja, me caro amigo Lusopoeta.
ResponderExcluirDia de lindas poesias
ResponderExcluirdas palavras, acrobacias
vendaval de euforia
Da amizade, este encontro, alquimia...
Parabéns aqui também ! Pelo aniversário e pela rodada!
ResponderExcluirUma honra estar aqui, entre tantos grandes poetas.
ResponderExcluirE parabens, Dante! Ja havia dado os parabens no Face, mas fica aqui tambem o registro. Abracos.
ResponderExcluirObrigado amigos, vcs me deram este presente maravilhoso: Poesias aos borbotões, exuberantes e, o melhor é que posso dividir este presente com todo mundo.
ResponderExcluirEspero todos na próxima rodada.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAlegria de ver a festa da poesia de volta! Alegria de poder beijar, abraçar e comemorar com aniversariante, meu amor eterno!!!!BEIJOS!
ResponderExcluirParabéns, grande Dante!
ResponderExcluirPoesia brilhante reluz dos teus olhos não menos brilhantes.
Obrigado sempre pelas portas que abres à poesia.
Felicidades, sempre, sempre.
Abração!
Lohan
E aos poetas dessa rodada, espetacular! Não tenho outra palavra, no momento, pra definir. Que show de poesia!
ResponderExcluirAbração em todos!
Lohan.
Parabéns Dante, pelo trabalho poético. Adorei seu Blog! Confesso que ainda estou engatinhando nesse assunto. Mas um dia eu chego lá. Vc parece que nasceu para a arte. Que bom! Parabéns duplo (pelo seu aniversário e pelo belo trabalho). Tudo de bom! Eliane Pincelli
ResponderExcluirAMIGOS , POETAS, PRIMA, E MEU AMOR, É SEMPRE UM PRAZER PODER TRABALHAR EM PROL DA ARTE, DA POESIA E, TÊ-LOS AQUI COMENTANDO SÓ VEM ME DAR MAIS FORÇA PARA NUNCA MAIS PARAR.
ResponderExcluirOBRIGADO A TODOS.