terça-feira, 14 de abril de 2015

I Festival Stella Monteiro de Poesias (rodada 3)


     Stella Monteiro





O tema desta rodada é:

Sangue nas Frestas dos Azulejos

Fotografia e arte de Paulo Acacio Ramos


Proposto  por Paulo Acacio Ramos



&*&*&*&*&*




"O poeta"
(Carvalho Junior)



suco de versos derramado no chão da casa...

o poeta é um azulejo quebrado nas tuas mãos.
Caxias-Maranhão
&*&*&*&*&*



"Em Série"


(Paulo Acácio Ramos)


ah, meu amor
 o que eu te dei
 o deserto em flor
 um jardim de areia
 um tanque de piranhas
 para tomares banho...





Trofa - Portugal


&*&*&*&*&* 



"Sangue de Maria"

(Izaura Carolina)





Macaé - Rio de Janeiro


&*&*&*&*&*



"Descarte"

(Cinthia Kriemler)


limpei com sanitária os teus pedaços
 nas paredes, nas gavetas
 na vagina 
escarrei no urinol de plástico a saliva
 viciada no teu gosto de tabaco e álcool
como se cuspir verdades não fosse
 um jeito de esconder mentiras 
passei a bucha da pia nas panelas
 nos pratos, nos talheres, nos bicos
 dos seios [em cada lugar onde você comeu]
 lavei um copo, bebi o teu sêmen
 e caminhei descalça sobre o teu sangue 
 nas frestas dos azulejos
 prenhe da tua morte


Brasília- Distrito Federal



&*&*&*&*&*




"ENCHENTES ARTERIAIS"

 (RaiBlue)





A noite cresce doída
 cancro
 nicotina
 café amargo

( não há mar
 Go! Go! )

mormaço
 nada ventila pulmão adentro

em tom rosé teu cheiro ácido
 corroendo as paredes da mucosa 
da casa rosa
 que um dia pintei pra você

( eu que sou tão blue(s) )

agora só resta
 sangue nas frestas
 dos azulejos
 da sala 
do quarto
 do banheiro

do corpo inteiro

hemorragia letal de quem ama
 e sabe que nem a morte estanca

sou a casa que sangra e afunda 
em enchentes arteriais e profundas
 de rasos amores



. (Salvador - Bahia)

&*&*&*&*&*




"azulejo de um porão velho"

(Vinni Corrêa)


uma cadeira
nela
o que restou de um corpo

por uma fresta
a visão turva por pancadas
 o som abafado por afogamento
 o cheiro encardido por queimaduras
o gosto calado por choques

e
pinga
 o sangue
 que apenas sinto escorrer asperamente
 por minhas frestas lisas
 que a história jamais me questionará



Rio de Janeiro - Rio de Janeiro



&*&*&*&*&*




"Sangue na fresta dos azulejos"
 (ao amigo Selarón, Chileno da gema)

(Jan Neves)



Nas ruas de outrora
 Vassalos de agora
 Selarão os olhos
 De quem decora a ação
 Nas escadas

No breu das sombras
Fim de festa e ponto nos desejos
Silencio nos realejos
 Lapadas mudas
E sangue nas frestas dos azulejos



Rio de Janeiro - Rio de Janeiro



&*&*&*&*&*



"formigas"

(Zecafran)
 


no chao da cozinha,
dois corpos,
ela,
de cabelos molhados,
pós banho.


geladeira aberta,
vidro quebrado,
a tv, anuncia mais um comercial;
o corpo dele sobre o dela,
e o sangue misturado,
respingado na parede

e as formigas passeiam
 no sol da tarde
pelas frestas
dos azulejos



Niterói - Rio de Janeiro



&*&*&*&*&*


"a-fio"





(Dante Pincelli)





navegou dias

a-fio

(de pernas

abertas)

em seu novo

smart fone

novo

e

antes de morrer-se

deixou um bilhete

criptografado

sobre o  colo:

"meu amor,

não jogue absorvente

no vaso
e limpe

o sangue

do banheiro

da clínica."



Macaé -Rio de Janeiro




&*&*&*&*&*



"Distância"

(S. Quimas)


De ti restaram lembranças,
 Um cheiro que teima em meu nariz,
 Miragens de ti que se sobrepõem à realidade,
 Saudade de carmim
 Feito sangue nas frestas dos azulejos.



Rio de Janeiro - Rio de Janeiro




&*&*&*&*&*




''Açougue''

 (gri lo)



Palco de nossa mais recôndita selvageria
 Faminta herança de caçadores/coletores
 Profanadores da santa sacra Natureza
 Paraíso feito inferno de nós mesmos
 Juntos caminhando a esmo
 Abatedouros como destino
Catedral de distribuição de crenças
 Fraca carne carente de reposição
Autofagia como próxima lição.



Cambuí -Minas Gerais





&*&*&*&*&*





"Mar Vermelho Latino Americano"

( Andréa Amaral)


Um estampido.
Um gemido.
Uma lágrima corrente.
Um dente.
Um azulejo frio.
Um piso.
Uma parede quente.
Um passo a frente.
E de repente
Um lago, uma poça, um rio...
O Mar Vermelho escorrendo pelas frestas abertas da América Latina.
Uma menina... valente, Andina.
E o seu sangue no braço, no baço, nos azulejos, nos becos...
O silêncio agora atordoa.
O gemido cala.
A lágrima para.
O sangue seca.
E um azulejo frio se enche de vida
porque em suas artérias abertas,
corre uma história de vida e morte.





Nova Friburgo - Rio da Janeiro



&*&*&*&*&*


O tema para a próxima rodada é 

TREM

Sugerido pelo S. Quimas









 



8 comentários:

  1. Rodada marcada por poesias preciosas como as formigas passeando do Zecafran, as lapadas mudas nas escadas do Selarón, do Jan, a limpeza total da Cinthia,o azulejo quebrado na mão do poeta do Carvalho, A foto da Maria Izaura...
    Me sinto honrado e presenteado com tanta poesia...
    Não vai dar pra citar todos, mas estão no meu coracebo.

    ResponderExcluir
  2. poesias que sangrao como o rosto da virgem pintada nos azulejos num suposto milagre da criação

    ResponderExcluir
  3. Belos... Belos... Belos!!! Que mais se pode dizer?

    ResponderExcluir
  4. Como imaginei: poesias de arrepiarrrr!!! Densas e intensamente belas!!!

    Aplausos para todos nós!!!

    beijinhos azuisZen em cada um...

    ResponderExcluir
  5. perdi a bagaca do sangue. o sangue fresado nas frestas dos azulejos era resultante da jatada do caboclo que nao segurou o jerimum com jaba nas calca e foi pro banheiro do bar. e banheiro de boteco e explosao sangue e areia e fez-se a arte por escrito e eternizou nas paredes. e isso ai...que venha o trem

    ResponderExcluir
  6. Bela rodada.
    Parabéns a todos, especialmente a Cinthia, Jan e Zecafran. Adorei!

    ResponderExcluir
  7. É muito bom saber que a criação continua dialogando com quem a lê..obrigado a Isaura pelo o elogio....pessoa de criatividades mil...muito bom estar com voces

    ResponderExcluir
  8. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir