quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Amor e Pás



Levo sempre um pouco
de ti nos meus olhos
assim cortina entreaberta
banho depois de foder

Trago sempre comigo
um raio da tua luz
tua cruz a cortar-me
as costas onde aportas

Lavo sempre em mim
tua boca suja
de fermento químico
de invento cínico

De colchão d'água
que jorrou dos teus choros
engolidos pelo novo
tudo novo tu de novo

Renasço como ovo
protesto como povo
mas, em verdade, 
nem me movo

Sigo comovido 
pelos milhões de moléculas
microorganismos
arrepios arrepios arrepios

Retornar ao caos
espremer o pus
deixar sair de mim
o que de mim já não importa

Repartir os últimos cacos
de existência
que em mim sobrevivem
sobrevir-me de lamas

Sobrevir-me da fama
que cavei com pás de deuses
um milhão de infinitas vezes.


Paulo Acácio Ramos 
Dante Saraiva Pincelli
02.02.2016

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