um velho
se debruça
sobre suas memórias
revira
os arquivos das lembranças parcas
contempla o crescer
de árvores, flores, matagal
procura antever as raízes
sob a terra fértil
e o pensamento caduco...
já escrevia
poesias líricas
histórias lúdicas
antes das palavras
serem inventadas...
a pedra pintada
veio muito depois
a arte ainda não existia...
chora pelo tempo derramado...
o tempo não nos poupa
não nos espera trocar de roupa
não guarda lugar na fila da juventude
que há muito, amadureceu no pé da vida...
“-estranhamente
não me reconheço em mim
sei de onde venho
mas parece que não tenho fim...”
de olhos vermelhos
corre pro espelho
na vã tentativa de se encontrar:
e lá está ela
a sua imagem
mas não é ele
não ri de si própria
não tem autonomia
é um arremedo de si
triste e breve alegoria
da sua efêmera vida vazia...
ancora-se frouxo
num pensamento ordinário
de um tempo imemorial
que lhe trouxe espanto...
o branco em seus cabelos
as rugas no seu rosto
não fazem do tempo
um personagem confortável
antes disso, cruel e voraz ...
e num acesso de raiva lúcida
decide nunca mais dar corda
em seu relógio de pulso
pois velho como ele
já não deve aguentar mais
a correria insana e impiedosa
do tempo
impetuoso desembestado...
o velho
sem medo
sem mágoa
sem dor
sem pressa
atravessa sua vil existência
na esperança de um dia
ser apenas saudade...
2011
Na 1ª rodada da final do concurso de poesias do blog Autores s/a o tema dado foi "O VELHO E O TEMPO"e eu me classifiquei com este texto.
belo! :-)
ResponderExcluirLINDO! ADOREI.
ResponderExcluirViagem. ....show caetaneante ...tudo lindo.....rsss....abrs irmão
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