no quintal da minha casa
quando, às vezes, me distraio
pardais dividem os pedaços de pão
colocados ao acaso
sempre no mesmo lugar
no quintal da minha casa...
no quintal da minha casa
quase todas as coisas tem asas
borboletas sobre margaridas e flores do mato
gafanhotos que devoram bertalhas
e toda a imaginação que voa à solta, sem pressa
no quintal da minha casa...
no quintal da minha casa
o peito arde em brasa
quando penso em fazer nada
ouvindo uma música silenciosa
tocando insistentemente
entre a mangueira e o banco da varanda...
no quintal da minha casa
me entorpeço com o cheiro da erva cidreira
olho o verde das bananeiras
às vezes, repico o sino
só pra quebrar a maravilhosa monotonia...
contemplo parado meu jardim
de trevo de quatro folhas...
esmiúço os mais longínquos
cantos do pensamento
e tento organizar o quebra cabeças
da minha memória
remonto todas as fases emocionantes
da minha história...
me aborreço e me alegro
no caminho de pedras
que montei enquanto chovia
e eu cantava
no quase perfeito
lado direito
de quem entra
do quintal da minha casa...
1990 /
Quando eu morava
Muito bom, Dante. Além do aspecto físico, os lugares se vestem de nossas memórias afetivas, e a pedra vira diamante.
ResponderExcluirAlex, as pessoas que nos guardam viram diamantes ou amolecem em nossos braços e memória, são parte da nossa história.
ResponderExcluirO que sobra é poesia.
Viva o quintal! Muitos Poetas (e dos bons) comecam entre a mangueira e o banco da varanda... parabens, poeta!
ResponderExcluirGrande Dante, os quintais da Tapera são verdadeiros latifúndios se comparados aos poucos metros quadrados de cimento, a que eu insisto em chamar de quintal hoje, mas na memória da minha parca poesia ainda posso visitá-los e correr entre as jabuticabeiras, onde procriam os joões de barro e bem-te-vis. Abraços.
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