terça-feira, 11 de janeiro de 2011

" a dançarina. "


em volta da mesa as flores não mais falavam e sequer despetalavam. a noite ia grande e o dia aproximava-se lento e ininterrupto, claramente, porém. então desenrolou-se a cena mórbida, docemente premeditada passo a passo por ela... desceu as escadas vestida como dama e o era. pediu limonada com gelo que chegaria minutos depois. naquele breve espera, ensaiou um ritmo, timidamente, com os dedos na mesa, parecia afoxé, mas eram apenas repiques sincopados. justo aí, chegou a limonada que, num só gole, ela tomou a metade. levantou-se abrupta e dançou ao som do silêncio, de olhos perplexos e perfume de flores. além de bailar, apenas sorria o pouco que lhe restava. dançou o resto da noite. entornou o dia sobre seus pés e pernas e continuou calma e obsessiva o seu bailado. um crepúsculo anunciou outra noite: em volta dela o silêncio de olhos contritos e flores famintas. então bebeu o resto da limonada e saiu com cabelos esvoaçantes. nunca mais ninguém dali, a viu ou ouviu seu nome que, no momento me foge a memória. as flores morreram.

1991

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