quarta-feira, 31 de agosto de 2011

“virginiano coração”



vou lembrando
e lambendo
teus beijos surpresa.


vou lendo

e olhando
teu olho alado
pedindo pedidos
de largas libidos.


vou filmando
teus passos
de requebros redondos
roendo meu rosto
e me remetendo
a remotos deleites.
de tempos
que nem consigo lembrar


vou de coloridos selos
entre os cajus e vermelhos
dos teus cabelos,
que voam e vão
em direção
ao meu virginiano
cor-ação.


2011.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

"de tudo um pouco"


pura poesia

se serve fria

se come em cortes

se degusta lento

manjá dos céus.


poesia crua

sem reboco

revela o oco,

o âmago

do poeta nu.


poesia por um fio

trapezista sem rede

mergulho no vazio

arrepio da platéia.


poesia galéia

mistura sã,

heteromogênica,

marido e irmã

ímã do olho vago.


poesia de trago

pinga no papel

mareia os sentidos

fumada às cinzas

cheirada pela carreira.



2011

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

“me oriente” (para Paulo Acacio e Stella Monteiro)



poetar:


longe do mundo,

revira-se armários

do tempo,

prateleiras da memória,

esqueletos tão secretos

desmontam no colo

de sílabas compulsivas,

palavras impossíveis,

em versos de azulejo

e rimas de porcelana

num comboio de letras

lentas, tontas, lúgubres...


se um poeta

que me oriente

parar de escrever

em Tóquio

e o mundo parar junto,

mesmo exausto,

seguirei como o único

a tentar entender

minha musa

constante e caprichosa:


a poesia.


2011, poesia enviada para a final do concurso de poesias do blog Autores S/A e que ficou em 2º lugar.
Obrigado amigos e seguidores, sem vcs nada disso faria sentido.


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

“dor e poesia”




poesia que soa

ao mais leve toque

no peito em chagas

do poeta em prantos.


poesia que rasga ferina

em primeira audição,

no improviso cortante

de sótão, piso, porão,

fogo fátuo, transitória

imprescindível.


letra escorrida

sílaba compulsiva

palavra impossível.



2011


Poesia não enviada pro concurso.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

"simples" para Leila Gross


Leilinha
Leilinda
linda flor
cravada no asfalto.

Leila de virgem
(terra intocada)
olhos rápidos
corpo fino
e bom...

desbaratino
com teus encantos
desatino
na tua mão...

meiga
Leila
leve
breve
textura de alma
aura
cor-sabor-saber...

gostaria de ser poesia...

simplicidade
na parafernálha
louca
da simples-cidade...

adormeço longo
sob os efeitos de ti...

negra a noite
parecendo
teus cabelos espalhados
no ar,
por todos os cantos
mil encantos,
mil
em
cantos
canto
cantas
cantamos
quase afinados
quase no tom.



Escrito em um domingo de 1986

"dissecando a poesia" para Flavia Castro



minha poesia é forte,

desata em cortes,

abre em chagas,

deixa marcas,

não se contenta

com o suave...


minha poesia

não é maldita,

mas grita, martela,

papel, tela, cabeça,

complexa em sutilezas...


minha poesia

não quebra regras,

não voa às cegas,

escorrega, mas não enverga,

requebra faceira

num rebolado de letras...


minha poesia

nunca me deu camisa

e nem precisa,

sobrevivo de versos,

bebo rimas,

visto estrofes,

minha cura, minha sorte...


minha poesia é vera,

encara a fera,

supera a arena,

não faz cena,

minha mãe, confidente,

redundante na cama,

maravilhoso pleonasmo...


minha poesia é reta

sincera, constante,

não desvia olhar,

não finge orgasmo.



2011



Poesia não enviada ao concurso.

Tema: A poesia

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

"alguns sentidos"


lambo pregos

como lambo egos,

sem exageros:

um bom tempero,

mas sou sincero,

me esmero

quando me apego.


ando cego

como monto lego,

lento e certeiro,

lúcido e calmo:

cheiro, lambo, apalpo

sem som alto,

nem ribalta, nem palco.


ajuda um pouco de álcool



2011.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

"filha do além"

naves no céu

mar de sereias
teias de água e ar...


estrela de fogo
terra de mágicas
sexofágicas
chama de nos chamar...


a tua força
quatro elementos

mil sentimentos
nossos momentos

feitos de festa
som de seresta
tudo nos resta de amor
de amar...

vinda de além do além
além dos sonhos meus
dizendo amém
anjo maior que deus...

linda como ninguém
que me aconteceu
fez tanto bem
ao meu coração ateu...

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

“brindes”



pra brindar

um amor lacônico:

ponto.


pra brindar

um amor duradouro:

reticências.


pra brindar

um amor eterno

teria que ser Dante,

atravessar o inferno,

purgar os males,

atingir o paraíso.


mas sou apenas

um Velho poeta

escolhendo entre

todos os versos

(mal) ditos sobre o amor

os que mais

se pareçam

com o meu.


2011


Poesia sobre o amor, feita e não enviada para o concurso do blog Autores S/A.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

"navegante"


parto do porto dos teus olhos

em nau de velas cheias

quase naufrago imprudente

no mar vermelho da tua boca.


circundo o arquipélago

dos seios de bujarrona

rodamoinho no umbigo

sigo singrando

por negras algas

até à gruta alagada

encimada por farol.


já no outro oceano

maremotos alquebram

a mim e ao meu barco

frouxos, fracos

e lá, no abismo abissal

já não há velas

nem convés

nem casco

restou de pé

o mastro.




2011



Poesia enviada ao concurso do blog Autores s/a.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

"sou meu pai"


madrugada lenta,
luz difusa,
espelho rachado.
em cada pedaço
do tempo em estilhaço
susto posto no rosto:
sou meu pai!

em rugas cínicas
saudade que não há,
no claro dos olhos
conselhos não dados,
no branco longo da barba
medos não curados,
sob o calvo da cabeça
poesias que não dediquei...

só entendi
sóbrio e solene
em minhas falhas
e minhas filhas
que ora vagueiam
no eito imperfeito do mundo,
levando junto
meu coração
intenso e farto
que descompassa confuso
(nelas)
fora de mim.


2011


Poesia enviada e postada hoje no concurso do blog Autores s/a, não sei ainda o resultado, mas a escrita deste deste texto me fez esparramar meus fantasmas todos em uma mesa, embaralhá-los e soprá-los pra longe como cartas na ventania.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

"pai que se preza"


um rosto branco
no porta retrato,
meu peito vaga desnudo,
estou mudo de solidão.
ficou o vão...

um olho azul
quieto, suspenso no ar,
a mão pesada
da dura disciplina,
o querer enigmático
sistemático e macio.
ficou o vazio...

pai que se preza,
não morre,
vai na frente

preparar terreno
pra chegada do seu filho
que ficou pequeno...


2011


Poesia não enviada ao concurso.


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

"Beijo"


Qual destes é o pénis
Do meu pai?
O que cuspiu
Metade de mim
Na minha mãe?
O que violou
Meu sono
E calou meus medos?
O que desceu à terra
Preso ao corpo
Morto que beijei!?

2011


Paulo Acacio Ramos



Continuando no tema da semana "PAI", um poema de além mar, o português Paulo Acacio Ramos poeta de 1ª linha nos presenteia com este belo poema comemorativo.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

"bom pai"


sei que tudo
de tudo que há
um dia se esvai...

sei que tudo
de tudo que ainda nem há
um dia cai...

mas disto você já sabia!!!

queria apenas
ser um bom pai,
mesmo que para isto
me tirassem a poesia...



2007


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

"língua'fiada" (soneto)


já não posso calar, cruzar os braços

nem tolher o que pinta o meu poema

que me venham mil feras nesta arena

neste circo cansei de ser palhaço.


quero ser domador do meu cansaço

não preciso fingir ou fazer cena

pois não sou canastrão neste cinema

já não tenho mais medo do fracasso.


faço verso em haicai e até soneto

retirei do armário o esqueleto

então, abro as folhas do meu livro


por isso, permaneço sempre atento

evitando surpresa ou desalento

escrever me mantém muito mais vivo.


2011


Soneto feito para o concurso de poesias do blog Autores S/A e não enviado, este era o meu favorito, mas na hora H resolvi mandar outro.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

"manhã de libido" (soneto)


o dia veio em silêncio certeiro

beijei a solidão de língua fria

olhei no fundo da minha agonia

vi a verdade morrer no canteiro


esperei inutilmente um afago

o relógio rodopiava lento

meu olho vazou triste e sonolento

a boca tremeu implorando um trago...


a noite mostrou seus dentes e garras

meu corpo alarmou frisson e algazarra

ao ver o teu corpo perfeito e liso


tudo culminou num largo festejo

transformando a madrugada em desejo

culminando na manhã de libido.

2011




Soneto NÃO enviado ao concurso.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

"soneto nº 3 pra Izaura"


minha calma, meu alento

pedra prima maravilha

riso aberto em cata vento

do soneto em redondilhas.


elevada em atalaia

universo verso em sorte

minha deusa musa maia

o meu lastro rumo norte.


ousadia sem pecado

todo engano perdoado

nesse eterno carnaval.


meu espelho de coragem

de metáforas e imagens

deste humilde madrigal.


2011

Soneto escrito e NÃO enviado para o concurso de poesias do blog Autores S/A.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

"banhos"


saltitos e saltejos

que o ritmo do rio revela

lambendo liso e ileso

o lindo corpo dela...



marretas e marulhos

que o ímpeto do mar festeja

salgando sóbrio e solene

o ouro da sua pele de cerveja...



jorros, gotas e jatos

que vertem vários do chuveiro

rolam rumo ao ralo

purificando seu corpo inteiro...



2003

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

"vladimirável maiakóvski" e uma aula martelo (em resposta).

Não consigo postar o poema em sua forma original, portanto peço que cliquem neste link para ver como ele é, de verdade.
http://autoressa.blogspot.com/2011/07/top-7-poema-em-homenagem-ao-autor.html


desmetri

fica

da

mente

semeada

pelos

Campos

da

megaroa

concretacidade



verso martelo

convite ao berro

de-sa-cato



falando

versos

nunca

fatos



versos de tundra

oriunda

do crânio-gênio

apinhado-apanhado

hiperbólico


uma letra

alarma qual trombeta

estronda feito bomba



ri ou

mas tu

ve bro

ras ou

mas cu

ri bo



coloquial

moderna

(por hora

arcaica)

sui-ci-dado
(sem bilhete

com balido)

por uma

bala

laica.


2011




Este foi o poema que recebeu a 2ª menor nota do concurso, acompanhada de uma crítica nada favorável, por não poder me identificar no blog do concurso, publico aqui a minha resposta aos jurados, aproveitando pra fazer uma coisa que nunca fiz: Explicar um poema.


Pela 1ª vez na vida, explicarei uma poesia:
Na 1ª estrofe , descrevi a forma com que o poeta chegou ao Brasil, foi trazido pelos irmãos Campos em versões livres as quais eles chamavam de TRANSLUCIFERAÇÃO, que é uma característica marcante da poesia concreta, criada em 1956, em São Paulo pelos irmãos Haroldo e Augusto de Campos e Décio Pignatari, eu mesmo só posso ler Maiakóvski traduzido, no sentido pleno, por eles, pois não leio em russo.

Na 2ª estrofe cito o próprio Maiakóvski quando diz: "A arte não é um espelho para reflectir o mundo, mas um martelo para forjá-lo."


Na 4ª estrofe saudo o lugar onde ele nasceu, viveu e morreu, utilizando a vegetação característica da região e enalteço a genialidade do poeta, sua inquietação e gana de desenvolver a si e ao seu trabalho, verdadeiramente um gigante.


Nas 3ª e 5ª estrofes , novamente cito-o, quando ele escreveu em "V INTERNACIONAL":

Eu
à poesia
só permito uma forma:
concisão,
precisão das fórmulas
matemáticas.
Às parlengas poéticas estou acostumado,
eu ainda falo versos e não fatos.
Porém
se eu falo
"A"
este "a"
é uma trombeta-alarma para a Humanidade.
Se eu falo
"B"
é uma nova bomba na batalha do homem

Na 6ª estrofe cito-o novamente quando ele disse:
"No asfalto liso hei de rolar as rimas veras!"
E faço uma alusão à revolução comunista de Outubro de 1917
e ao seu estilo CUBO-FUTIRISTA... É isso mesmo, pasmem, esta
minha poesia NÃO É CONCRETA, é cubista em sua forma, 
característica marcante do homenageado... Ouviram??? CUBISTA!!!

Na última estrofe eu falo da sua busca pela linguagem comum, 
falada pelo povo em sua simplicidade e modernidade e termino 
com sua morte, um suicídio forjado pelos poderosos que queriam 
uma poesia simples e direta para controlar melhor o povo, a qual,
Maiakóvski nunca se rendeu, aproveito para isto uma de suas poesias
(a minha Preferida) BALALAICA (1913), que na foto acima aparece
escrita na parede do meu estúdio/escritório, desde que ele foi
construído.

 
"Balalaica"

Balalaica
(como um balido abala
a balada do baile 
de gala)
(com balido abala)
abala (com balido)
(a gala do baile) louca a bala
laica.

Atenciosamente O velho Poeta.
Dante Pincelli